domingo, 28 de maio de 2017

 - Saber dizer "até já" é essencial - 

A minha vida tem-me obrigado a dizer muitas vezes “até já” (algumas por “destino” outras como resultado da vida que escolhi). Detesto a palavra “Adeus”. Para mim “Adeus” significa “para sempre” e essa noção de “para sempre” não existe na minha forma de viver e sentir. Quer seja nas despedidas por ir embora, nas despedidas por escolher outro caminho ou nas despedidas, bem mais duras, devidas à morte de alguém que nos é querido, a palavra “Adeus” não tem sentido nem utilidade. Em todos os casos sinto que um “Até já” é bem mais sentido e verdadeiro. Sei, bem no meu íntimo que, de uma forma de outra, haverá um reencontro com as pessoas de quem me despeço naquele momento penoso. Até lá, e por nunca serem esquecidas, pertencem à minha vida, pertencem-me…
Desde muito cedo aprendi a dizer “até já” às pessoas e situações de quem gostava. Não, não considero isso como algo de positivo mas é apenas uma constatação. Ainda criança fui obrigada a despedir-me de pessoas que serão sempre das mais importantes na minha vida (fisicamente ausentes mas sempre presentes numa forma menos terrena).
A vida que escolhi também me obriga a muitas despedidas. Despedidas de colegas que conheci num ano, de cidades ou vilas de que aprendi a gostar, de alunos que por uma razão ou outra te marcaram, de verdadeiras amizades que criaste durante todo esse tempo em que estiveste longe do teu lar e longe dos teus. Nas relações amorosas também fui “obrigada” a despedir-me algumas vezes. Por vezes por opção minha, por perceber que determinada relação já tinha trilhado todo o caminho que poderia ser trilhado e que, por isso tinha chegado ao fim. Outras vezes porque o outro terá pensado exatamente o mesmo…não havia mais caminho a percorrer…ou porque “o outro”  terá verificado que o caminho a ser trilhado comigo seria bem mais acidentado e movimentado do que com outras pessoas…e por isso terá feito outras opções.
O certo é que as despedidas fazem parte da minha vida desde há muito. Têm sido muitas ao longo dos anos. E o facto de as ter iniciado tão jovem e de já o ter feito tantas vezes não me tornou mais hábil na questão das despedidas. Continuam a ser difíceis…sinto que perco uma parte de mim sempre que me despeço de algo ou de alguém que me é caro. É uma ferida que fica ali à procura de uma cura. Umas feridas são, obviamente, mais profundas que outras. Umas curam…porque somos naturalmente resilientes e aprendemos a superar perdas. Perdemos uma parte de nós mas criámos outros “bocadinhos” para superar essas perdas. Outras…aparentemente ficam curadas. Criamos uma crosta que nos faz pensar que a cura chegou. Pensamos que superamos a dor e a perda. Mas facilmente percebemos que, por baixo dessa crosta, a ferida está lá. Basta pensarmos um pouco para perceber que as brechas se abrem com uma facilidade enorme e que a ferida volta a sangrar. Com o tempo sangramos cada vez menos é certo…mas quando a crosta desaparece e deixa de sangrar fica a cicatriz. E essa, ninguém a consegue apagar. Está lá, como se fosse parte de ti. Não nasceu contigo mas passou a fazer parte…No fundo ocupa o espaço que a pessoa a quem tiveste que dizer “até já” ocupava.
Apesar de tudo o que referi, apesar das despedidas serem sempre muito difíceis (Nunca nos tornamos uns profissionais dos “até já” independentemente de passarmos por lá muitas vezes), a verdade é que, com ou sem cicatrizes, temos de aprender a seguir em frente. Temos de aprender a dizer “farewell” a quem por opção nos deixou. Temos de deixar caminhar quem escolheu seguir a viagem sem nós. E, acima de tudo, temos de aprender a dizer “vai em paz” a quem, sem ter escolha, deixou de fazer parte da nossa vida. E acreditar, como tenho certeza, que, de uma forma menos visível, estão connosco e connosco caminham. Por isso, como disse anteriormente, não é dizer “Adeus”.
 Aos outros…aos que seguiram outros caminhos, os que seguiram as suas vidas… apenas devemos desejar o melhor. Agradecer por terem feito parte das nossas vidas durante o tempo que fizeram parte, agradecer o bem que nos possam ter trazido e agradecer o terem ajudado a provar, mais uma vez, que somos seres humanos fortes, que podemos vergar mas que não quebramos porque somos resistentes e resilientes. E deixá-los seguir a sua vida…tentando dizer “até já” sem criar novas cicatrizes.

Reafirmo: para mim todas as despedidas são um “até já”. Sei, no mais profundo de mim, que a vida se irá encarregar de reunir aqueles que partilharam sentimentos verdadeiros. O amor, em todas as suas formas, nunca morre … Por isso, aos que amei verdadeiramente tenho uma certeza que me acompanha e me dá força: “we’ll meet again”. 

Sem comentários:

Enviar um comentário