- Saber dizer "até já" é essencial -
A minha vida tem-me obrigado a
dizer muitas vezes “até já” (algumas por “destino” outras como resultado da
vida que escolhi). Detesto a palavra “Adeus”. Para mim “Adeus” significa “para
sempre” e essa noção de “para sempre” não existe na minha forma de viver e
sentir. Quer seja nas despedidas por ir embora, nas despedidas por escolher
outro caminho ou nas despedidas, bem mais duras, devidas à morte de alguém que
nos é querido, a palavra “Adeus” não tem sentido nem utilidade. Em todos os
casos sinto que um “Até já” é bem mais sentido e verdadeiro. Sei, bem no meu
íntimo que, de uma forma de outra, haverá um reencontro com as pessoas de quem
me despeço naquele momento penoso. Até lá, e por nunca serem esquecidas,
pertencem à minha vida, pertencem-me…
Desde muito cedo aprendi a dizer
“até já” às pessoas e situações de quem gostava. Não, não considero isso como
algo de positivo mas é apenas uma constatação. Ainda criança fui obrigada a
despedir-me de pessoas que serão sempre das mais importantes na minha vida
(fisicamente ausentes mas sempre presentes numa forma menos terrena).
A vida que escolhi também me
obriga a muitas despedidas. Despedidas de colegas que conheci num ano, de
cidades ou vilas de que aprendi a gostar, de alunos que por uma razão ou outra
te marcaram, de verdadeiras amizades que criaste durante todo esse tempo em que
estiveste longe do teu lar e longe dos teus. Nas relações amorosas também fui
“obrigada” a despedir-me algumas vezes. Por vezes por opção minha, por perceber
que determinada relação já tinha trilhado todo o caminho que poderia ser
trilhado e que, por isso tinha chegado ao fim. Outras vezes porque o outro terá
pensado exatamente o mesmo…não havia mais caminho a percorrer…ou porque “o
outro” terá verificado que o caminho a
ser trilhado comigo seria bem mais acidentado e movimentado do que com outras
pessoas…e por isso terá feito outras opções.
O certo é que as despedidas fazem
parte da minha vida desde há muito. Têm sido muitas ao longo dos anos. E o
facto de as ter iniciado tão jovem e de já o ter feito tantas vezes não me
tornou mais hábil na questão das despedidas. Continuam a ser difíceis…sinto que
perco uma parte de mim sempre que me despeço de algo ou de alguém que me é caro.
É uma ferida que fica ali à procura de uma cura. Umas feridas são, obviamente,
mais profundas que outras. Umas curam…porque somos naturalmente resilientes e
aprendemos a superar perdas. Perdemos uma parte de nós mas criámos outros
“bocadinhos” para superar essas perdas. Outras…aparentemente ficam curadas. Criamos
uma crosta que nos faz pensar que a cura chegou. Pensamos que superamos a dor e
a perda. Mas facilmente percebemos que, por baixo dessa crosta, a ferida está
lá. Basta pensarmos um pouco para perceber que as brechas se abrem com uma
facilidade enorme e que a ferida volta a sangrar. Com o tempo sangramos cada
vez menos é certo…mas quando a crosta desaparece e deixa de sangrar fica a
cicatriz. E essa, ninguém a consegue apagar. Está lá, como se fosse parte de
ti. Não nasceu contigo mas passou a fazer parte…No fundo ocupa o espaço que a
pessoa a quem tiveste que dizer “até já” ocupava.
Apesar de tudo o que referi,
apesar das despedidas serem sempre muito difíceis (Nunca nos tornamos uns
profissionais dos “até já” independentemente de passarmos por lá muitas vezes),
a verdade é que, com ou sem cicatrizes, temos de aprender a seguir em frente.
Temos de aprender a dizer “farewell” a quem por opção nos deixou. Temos de
deixar caminhar quem escolheu seguir a viagem sem nós. E, acima de tudo, temos
de aprender a dizer “vai em paz” a quem, sem ter escolha, deixou de fazer parte
da nossa vida. E acreditar, como tenho certeza, que, de uma forma menos
visível, estão connosco e connosco caminham. Por isso, como disse
anteriormente, não é dizer “Adeus”.
Aos outros…aos que seguiram outros caminhos,
os que seguiram as suas vidas… apenas devemos desejar o melhor. Agradecer por
terem feito parte das nossas vidas durante o tempo que fizeram parte, agradecer
o bem que nos possam ter trazido e agradecer o terem ajudado a provar, mais uma
vez, que somos seres humanos fortes, que podemos vergar mas que não quebramos
porque somos resistentes e resilientes. E deixá-los seguir a sua vida…tentando
dizer “até já” sem criar novas cicatrizes.
Reafirmo: para mim todas as despedidas
são um “até já”. Sei, no mais profundo de mim, que a vida se irá encarregar de
reunir aqueles que partilharam sentimentos verdadeiros. O amor, em todas as
suas formas, nunca morre … Por isso, aos que amei verdadeiramente tenho uma
certeza que me acompanha e me dá força: “we’ll meet again”.
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