domingo, 28 de maio de 2017

 - Saber dizer "até já" é essencial - 

A minha vida tem-me obrigado a dizer muitas vezes “até já” (algumas por “destino” outras como resultado da vida que escolhi). Detesto a palavra “Adeus”. Para mim “Adeus” significa “para sempre” e essa noção de “para sempre” não existe na minha forma de viver e sentir. Quer seja nas despedidas por ir embora, nas despedidas por escolher outro caminho ou nas despedidas, bem mais duras, devidas à morte de alguém que nos é querido, a palavra “Adeus” não tem sentido nem utilidade. Em todos os casos sinto que um “Até já” é bem mais sentido e verdadeiro. Sei, bem no meu íntimo que, de uma forma de outra, haverá um reencontro com as pessoas de quem me despeço naquele momento penoso. Até lá, e por nunca serem esquecidas, pertencem à minha vida, pertencem-me…
Desde muito cedo aprendi a dizer “até já” às pessoas e situações de quem gostava. Não, não considero isso como algo de positivo mas é apenas uma constatação. Ainda criança fui obrigada a despedir-me de pessoas que serão sempre das mais importantes na minha vida (fisicamente ausentes mas sempre presentes numa forma menos terrena).
A vida que escolhi também me obriga a muitas despedidas. Despedidas de colegas que conheci num ano, de cidades ou vilas de que aprendi a gostar, de alunos que por uma razão ou outra te marcaram, de verdadeiras amizades que criaste durante todo esse tempo em que estiveste longe do teu lar e longe dos teus. Nas relações amorosas também fui “obrigada” a despedir-me algumas vezes. Por vezes por opção minha, por perceber que determinada relação já tinha trilhado todo o caminho que poderia ser trilhado e que, por isso tinha chegado ao fim. Outras vezes porque o outro terá pensado exatamente o mesmo…não havia mais caminho a percorrer…ou porque “o outro”  terá verificado que o caminho a ser trilhado comigo seria bem mais acidentado e movimentado do que com outras pessoas…e por isso terá feito outras opções.
O certo é que as despedidas fazem parte da minha vida desde há muito. Têm sido muitas ao longo dos anos. E o facto de as ter iniciado tão jovem e de já o ter feito tantas vezes não me tornou mais hábil na questão das despedidas. Continuam a ser difíceis…sinto que perco uma parte de mim sempre que me despeço de algo ou de alguém que me é caro. É uma ferida que fica ali à procura de uma cura. Umas feridas são, obviamente, mais profundas que outras. Umas curam…porque somos naturalmente resilientes e aprendemos a superar perdas. Perdemos uma parte de nós mas criámos outros “bocadinhos” para superar essas perdas. Outras…aparentemente ficam curadas. Criamos uma crosta que nos faz pensar que a cura chegou. Pensamos que superamos a dor e a perda. Mas facilmente percebemos que, por baixo dessa crosta, a ferida está lá. Basta pensarmos um pouco para perceber que as brechas se abrem com uma facilidade enorme e que a ferida volta a sangrar. Com o tempo sangramos cada vez menos é certo…mas quando a crosta desaparece e deixa de sangrar fica a cicatriz. E essa, ninguém a consegue apagar. Está lá, como se fosse parte de ti. Não nasceu contigo mas passou a fazer parte…No fundo ocupa o espaço que a pessoa a quem tiveste que dizer “até já” ocupava.
Apesar de tudo o que referi, apesar das despedidas serem sempre muito difíceis (Nunca nos tornamos uns profissionais dos “até já” independentemente de passarmos por lá muitas vezes), a verdade é que, com ou sem cicatrizes, temos de aprender a seguir em frente. Temos de aprender a dizer “farewell” a quem por opção nos deixou. Temos de deixar caminhar quem escolheu seguir a viagem sem nós. E, acima de tudo, temos de aprender a dizer “vai em paz” a quem, sem ter escolha, deixou de fazer parte da nossa vida. E acreditar, como tenho certeza, que, de uma forma menos visível, estão connosco e connosco caminham. Por isso, como disse anteriormente, não é dizer “Adeus”.
 Aos outros…aos que seguiram outros caminhos, os que seguiram as suas vidas… apenas devemos desejar o melhor. Agradecer por terem feito parte das nossas vidas durante o tempo que fizeram parte, agradecer o bem que nos possam ter trazido e agradecer o terem ajudado a provar, mais uma vez, que somos seres humanos fortes, que podemos vergar mas que não quebramos porque somos resistentes e resilientes. E deixá-los seguir a sua vida…tentando dizer “até já” sem criar novas cicatrizes.

Reafirmo: para mim todas as despedidas são um “até já”. Sei, no mais profundo de mim, que a vida se irá encarregar de reunir aqueles que partilharam sentimentos verdadeiros. O amor, em todas as suas formas, nunca morre … Por isso, aos que amei verdadeiramente tenho uma certeza que me acompanha e me dá força: “we’ll meet again”. 

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Há coisas na vida que me dão um gosto imenso. Uma delas, penso que já o disse várias vezes, é conduzir ao som de músicas que aprecio. Poder conduzir em dias de sol, de vidro aberto (sim, ar condicionado só mesmo em última opção) é algo que me agrada imenso. E não sei se é fruto de conduzir quase sempre sozinha mas gosto mesmo é de o fazer sem companhia e ao som de uma banda sonora escolhida por mim ou aguardando as surpresas que a rádio me possa oferecer. O facto de ter alguém ao meu lado obriga-me a, por um lado, manter conversa e, por outro lado, não ouvir com atenção as músicas. Não é que não goste de conversar (gosto até demais) mas o carro, enquanto eu conduzo, não é o melhor local para o fazer. O estar sozinha permite-me por um lado, pensar na vida e traçar metas e, por outro, sempre que tenho essa necessidade, permite-me esvaziar o cérebro e não pensar em nada de especial. É nessas situações que procuro ouvir com atenção as músicas que passam na rádio e consigo identificar verdadeiras pérolas nas letras das canções. A título de exemplo relembro a música do Enrique Iglesias “Duele el Corazon” em que ele dizia “com ele dói-te o coração e comigo doem-te os pés” (não é maravilhosamente romântico?) ou até o famoso “despacito” que tanto se ouve hoje e que tem estes versos que ficarão para a eternidade: “tu és o íman e eu sou o metal”, “quero arfar para cima do teu pescoço devagarinho”, “devagarinho quero assinar as paredes do teu labirinto e fazer do teu corpo todo um manuscrito” (ó Deus!!), “Deixa-me atravessar as tuas zonas de perigo até desatares numa gritaria e esqueceres-te do teu apelido”  ou ainda “essa tua beleza é um quebra-cabeças e para montá-lo aqui tenho a peça”(Isto vale ouro! Camões e Pessoa devem estar verdes de inveja, lá no além por não terem escrito estes versos imortais) E como estas, asseguro, que há mesmo muitas! Tudo uma questão de estar ligeiramente atento ao que é dito a cantar!
É claro que gosto de conduzir a ouvir música não só com o intuito de ouvir os verdadeiros poemas musicados que andam por aí. Gosto porque conduzir e ouvir boa música relaxa-me, dá-me energia, leva-me a lugares do passado bons de recordar, dependendo da música e da situação. 
Hoje de manhã ouvi, na M80 a “I can´t stop loving you” dos Van Halen. Há anos que não ouvia tal música! Esta é uma daquelas que nos dá uma energia fantástica! Impossível ouvi-la sem ter o volume praticamente no máximo e impossível que o pé não pise mais no acelerador. Começar a 2ª feira assim é fantástico. No mesmo rol incluiria “I was born to love you” e  “love kills” dos Queen. “Absolute beginners” do David Bowie também tem essa influência em mim. E muitos mais haveria para citar.
Viagens longas requerem, vá-se lá saber porquê, música francesa. Nada como um Jean-Jacques Goldman, um Daniel Balavoine ou, mais recentemente, um Grégoire. Cantar, alto e bom som, as músicas de uma ponta a outra e não pensar muito na vida. Sempre ouvi esses cantores mas desde que fui trabalhar para Albufeira que ficaram ligados a este período da minha vida. Tal facto deve-se à quantidade de vezes que ouvi os álbuns desses cantores nas intermináveis viagens de e para Albufeira. As boas canções têm esse efeito. Relacionamo-las com momentos bons, momentos menos bons ou apenas com pessoas e situações.
O fantástico cd “Bowie 70” do David Fonseca ficará ligado, com certeza, a esta minha estadia em Avis.
A versão dos Disturbed de “The sound of silence” está ligada, por exemplo, à minha curta estadia em Tomar. Sem nenhuma razão aparente. Apenas porque a ouvi muitas vezes naquele período de tempo.
O fantástico “Just breathe” dos Pearl Jam, a “Meravigliosa creatura” da Gianna Nannini estão completamente ligados a um tempo que passou e que deixou bons momentos e boas recordações. Sempre que as ouço sinto um misto de nostalgia, saudade, mas também de alegria. São músicas que fazem aflorar um sorriso aos meus lábios. Sempre. Por isso adoro quando sou “apanhada” desprevenida por essa canções ao passarem na rádio. Muitas recordações, muitos momentos bons. Costumo dizer que ouvi-las, inesperadamente, é o prenúncio de um dia bom.
E depois, há aquelas cancões que, não sendo más, não suportas. Eventualmente pelas mesmas razões apontadas para as músicas que adoras. “Dá-me um abraço” dos Pólo Norte incomoda-me imenso. “Gosto de ti desde aqui até à lua” do Sardet também faz parte desse lote. Nada contra os intérpretes, nada contra a musiquinha (que nem é péssima). Apenas não gosto do que me fazem lembrar e sentir. Portanto, sempre que tenho a pouca sorte de passar por uma dessas canções, rapidamente mudo de estação procurando uns Queen, uns U2, até um Miguel Araújo que facilmente me transportam para momentos mais simpáticos e felizes da minha vida.

sábado, 20 de maio de 2017


"Um dia de sol é tão bonito como um dia de chuva..." - A. Caeiro
Estamos em maio…e apesar de o sol e o calor estarem a chegar estivemos até há poucos dias atrás com tempo de “abril, águas mil”. Não poderei dizer que isso me agrade muito. A verdade é que não me agrada nem um pouco. Sempre ouvi dizer que as pessoas que nasceram nos meses frios gostam de chuva e frio. Logicamente, quem nasceu nos meses de verão, gostará de calor e sol. E a verdade é que este conhecimento comum bate certo se pensar em mim e na minha irmã. Sendo a minha irmã uma nascida em outubro, é uma grande apreciadora das golas altas, do frio e dos cachecóis. Já eu, que sou a mulher de junho, sou uma apaixonada do chinelo, das alças e do calor a aquecer-me as costas enquanto caminho. Como tal, obviamente, só poderia odiar dias de chuva. Quem pode gostar daqueles dias sombrios, húmidos, desagradáveis? Quem poderá ficar bem-disposto quando acorda, coloca o nariz de fora e percebe que o dia está chuvoso? Dizem que há pessoas que gostam disso…tenho cá para mim que só poderão ser pessoas estranhas com graves problemas por resolver! Abdicando das ironias, o certo é que eu prefiro os dias de sol e tenho tendência a esquecer as necessidades óbvias de repor recursos hídricos e, como tal, esquecer a necessidade extrema de existir chuva. Por minha vontade poderia ser verão o ano inteiro, poderíamos ter temperaturas de 30 graus os doze meses do ano e a chuva podia dar o ar da sua graça 2 a 3 vezes nos 365 dias que compõem um ano civil. Com certeza que viveria bem e feliz.
 Fernando Pessoa, ou melhor, o seu heterónimo Alberto Caeiro, escreve que “um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem. Cada um é como é”. De acordo com este pensamento, há que aceitar cada dia com o melhor que ele nos poderá oferecer, seja ele de sol ou de chuva. Mas…eu gosto é de dias de sol. Deixam-me bem-disposta. Renovam-me a alma e a energia!
 Contudo…há momentos que, por terem sido marcados pela chuva se tornaram memoráveis e/ ou bem mais divertidos! Já por duas vezes me aconteceu estar em Feiras Medievais e ter um encontro imediato com a chuva. Relembro que o primeiro caso se deu em Sortelha há já alguns anos. Foi um temporal a sério, com relâmpagos, com o dia a transformar-se em noite em segundos…o tempo de nos abrigarmos e parecia que tínhamos levado um banho! Voltei mais vezes a esta feira…mas esse dia é relembrado com maior nitidez. As conversas com desconhecidos no nosso abrigo enquanto esperávamos que a chuva passasse, as gargalhadas pós-temporal ainda que com a roupa húmida, a certeza que finalmente és um adulto porque aprendeste a relativizar estes contratempos, tornaram este dia memorável e inesquecível. O segundo caso aconteceu aqui no Alentejo. E garanto que jantar com talher de madeira, com a comida numa telha e a chuva a cair-te em cima é algo de maravilhosamente divertido…convenhamos que desta vez, no Alentejo, a chuva não foi muito mais que uma ameaça. À conta disso dei por mim a pensar que a chuva não é tão negativa como à partida a descrevi e que, muitas vezes, ela nos traz situações simpáticas, divertidas, memoráveis, aconchegantes,… Por exemplo, quem não experimentou já a sensação de andar à chuva e em seguida chegar a casa e tomar um banho quente? Haverá alguém que não goste de ouvir a chuva cair enquanto lancha umas belas torradas (se forem de lume, ainda melhor) e bebe um chá quente? Quem não se espreguiçou com gosto quando, no quentinho da sua cama, ouviu que, lá fora, havia um dilúvio? E passar um domingo a tarde a “sofazar”, vegetando no sofá a ver um daqueles filmes de domingo à tarde enquanto na rua está chuva e frio? Ler, à lareira, enquanto “no resto do mundo” chove, com o teu animal de estimação aos pés é uma verdadeira terapia! Ser conduzida, num dia de chuva, naquele ambiente quentinho e aconchegante do carro, enquanto se ouve uma boa música é algo que adoro! E as trovoadas de verão? Quem não saiu de propósito de casa, ao ver cair uma trovoada de verão, para poder sentir a chuva na pele? Por fim…quem nunca deu um beijo à chuva porque tinha visto num filme e tinha achado extremamente romântico? (Apesar da maioria das pessoas que conheço terem detestado a experiência).
Volto a dizer: sou uma mulher que precisa de sol, que adora a energia que ele lhe transmite. Mas a verdade é que também preciso da chuva, de quando em vez, e que ela tem o seu encanto. A verdade é que existem muitas situações que me sabem bem melhor quando está um dia de chuva… A verdade é que preciso da chuva para dar valor ao sol. Haverá algo mais bonito que ver o sol brilhar depois de uma chuvada? Haverá algo mais bonito que um perfeito arco-íris?
Concluo que sou uma antítese constante, sou chuva e sol: é o sol que me energiza. É o sol que me faz querer sair. É ele que me deixa bem-disposta. Mas a chuva transforma-me na mulher mais caseira, na mulher do aconchego, na mulher mais serena e ponderada. Se por um lado, e como diz a célebre frase “a chuva não me assusta que eu sou feita de sol”, também sei, por outro lado, que se queres um arco-íris terás de enfrentar a chuva. É através dele que percebemos que a vida tem as cores que a gente pinta: cor de chuva, cor de sol…ou, bem melhor, as cores do arco-íris, que resultam de uma mistura dos dois.

domingo, 14 de maio de 2017

O 5º Império

Penso que todos já terão ouvido falar, de um modo mais ou menos geral, no mito do 5º império. O surgimento deste mito remonta, imagine-se, à Bíblia tendo sido aproveitado ao longo dos tempos por vários pensadores e escritores, servindo a causa que mais lhes fazia sentido à época.
Aqui no nosso cantinho, em Portugal, o mito do 5º império foi abordado, sobretudo, por Bandarra, nas “Trovas do Bandarra”, pelo Padre António Vieira, em “História do Futuro” e por Pessoa em a “Mensagem”.
Bandarra, nas suas profecias, vaticinava não só o regresso de D. Sebastião, o “Encoberto” como previa o futuro de Portugal como reino universal.
Mais tarde, o Padre António Vieira na sua “História do Futuro” considerava que depois dos grandes impérios da Babilónia, Pérsia, Grécia e Roma, iria chegar ao mundo o Império Universal Cristão, o tal Quinto Império e que esse império seria liderado pelo rei de Portugal.
Chegados a Pessoa e à sua “Mensagem”, o 5º império assume umas novas roupagens. Não só os 4 impérios anteriores não são, para ele, os já citados (para Pessoa os 4 impérios caídos eram a Grécia, a Roma antiga, o Cristianismo e a Europa das Luzes e do Renascimento) como este 5º império seria puramente espiritual. Este novo império iria resgatar Portugal da decadência em que se encontrava, transformando o país numa potência que reinaria sobre as outras. Mas esta potência não reinaria sobre as outras em termos políticos e económicos mas seria um império de fraternidade universal, cultura e língua portuguesas.
Ontem dei por mim a pensar que poderia ser isto? Poderíamos finalmente dar razão ao Pessoa e perceber que o 5º império se está a iniciar pé ante pé? Têm acontecido a este pequeno país à beira mar plantado alguns momentos maravilhosos que me fazem pensar sobre o assunto. Para mim, tudo se inicia quando se dá o reconhecimento mundial da inegável qualidade de José Saramago ao ser-lhe atribuído o Nobel da Literatura. Já lá vão uns anos, é um facto. Mas será que alguém esqueceu o enorme orgulho que sentimos pela atribuição deste prémio? Na época os computadores ainda não faziam parte integrante da minha vida e por isso lembro de comprar imensos jornais e guardar numa pasta todos os recortes referentes a Saramago, à sua obra e ao enorme orgulho que se sentia por este país fora.
Mais tarde, e na figura de Cristiano Ronaldo, voltei a sentir esse orgulho de ser portuguesa e de ver portugueses a cumprir o seu trabalho de forma tão exímia que eram nomeados” o melhor do mundo”. E assumo que ainda não me habituei a que ele seja, uma e outra vez, o melhor do mundo. A emoção é sempre a mesma! Estou convicta que este ano a bola de ouro será dele, mais uma vez! E mais uma vez é merecida. Sim, parece que já ouço as vozes dizer que não é o melhor do mundo. Que é um menino mimado e arrogante. Opiniões… Não entendo como se pode não gostar de alguém que levou e leva o nome de Portugal tão longe. Mas, volto a dizer, são opiniões.
E eis que surge o grande momento futebolístico. A equipa que quase todos mandavam para casa, em quem ninguém acreditava, o patinho feio transformou-se em cisne e, jogo atrás de jogo foi melhorando até conquistar o Europeu de Futebol! Nesse dia conquistámos a Europa. O país rebentou de orgulho! Tínhamos atingido o ponto a que aspirávamos há tanto tempo! E ficámos mesmo, mesmo felizes! A Europa era nossa!
Posto isto, que mais poderíamos nós desejar para este país? Penso que se a pergunta tem sido feita a todos os portugueses, ninguém se lembraria de responder:  “Vencer o Festival Eurovisão da Canção”. Era um festival brejeiro e azeiteiro, esquecido por todos. E, mais uma vez tivemos momentos inesperados e estranhíssimos. Uma ideia inovadora para o festival português (Convidar compositores para criar as músicas) e a vinda de uns irmãos Sobral que abanou tudo e todos. Muito se falou desta atuação, desta dupla, desta canção. Não vou negar que fui daquelas que não gostou desta música à partida. Já o disse aqui que primeiro estranhei o “Amar pelos dois” até que se entranhou de tal forma que não paro de a cantarolar! Pela primeira vez em mais de 20 anos (pelo menos) voltei a ver o festival da canção. Percebo tanto do festival que não sabia que havia votação dos júris e do público. A meio já eu pensava que estava ganho. Mas ganhámos mesmo! E mais uma vez o país rebentou de orgulho. Penso que, mais uma vez, os de fora perceberam mais depressa que os de cá da casa, que havia algo de muito diferente naquela música. Reconheceram-lhe a qualidade, a diferença, a arte.
Estamos inchados de orgulho com estes feitos. Andamos com um sorriso na cara. Sentimos que a nossa portugalidade está mais acordada. Sentimo-nos mais unidos. Raios, somos falados por todo o mundo. Afinal temos música da boa! Temos música que não precisa de foguetes, nem de verdadeiras encenações teatrais para ser reconhecida!

Perante isto tudo penso…Pessoa teria razão? Estaremos nós a criar um 5º Império? Serão a Mariza , a Ana Moura, os irmãos Sobral, o Cristiano Ronaldo, o Nélson Évora, o José Saramago, a Telma Monteiro, entre tantos outros os embaixadores deste 5º império?! Estará finalmente a “cumprir-se Portugal”?...Sabem que mais? Acredito que sim!

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Entrou em vigor, no dia 1 de maio deste ano, o novo estatuto jurídico dos animais. De acordo com esta lei os animais são reconhecidos como seres vivos dotados de sensibilidade e são objeto de proteção jurídica.
Ainda de acordo com a nova lei em vigor, ficam os cidadãos de Portugal a saber que quem agredir ou matar um animal ficará obrigado a indemnizar o proprietário ou as pessoas que tenham procedido ao seu socorro pelas despesas em que tenham incorrido para tratar o animal.
Quem me conhece, nem que seja um pouquinho, saberá que fiquei extramente contente com esta nova lei. Saberá que concordo com ela nos seus aspetos mais significativos. Claro que muito ainda há a fazer na questão dos direitos dos animais e muito mais há a questionar. Deixo no ar, por exemplo, a questão das touradas e a questão dos animais no circo (Questões que, por serem tão polémicas, deixarei para outro dia). O que quero questionar hoje é se nesta lei estão contemplados aranhas, centopeias, morcegos e peixes. Perguntar-se-á, neste momento o caro leitor (momento em que me sinto um Almeida Garrett, um Machado de Assis, ou qualquer outro autor que aprecia dirigir-se ao “seu leitor”) o porquê dessa minha preocupação com o grupo por mim denominado: “o grupo dos aracnídeos e artrópodes, dos morcegos e dos peixes”. E responderei eu, caro leitor, que nesta minha estadia por Avis tenho conhecido pessoas que, numa primeira abordagem me parecem pessoas calmas e sociáveis mas que, em determinados momentos, se têm apresentado como possíveis assassinos em série. Passo a explicar alguns dos casos:
1.       Estando eu a conversar com uma colega durante um simpático almoço, em que o foco da conversa era o gosto de viver no campo, informou-me a mesma que tinha tido extrema dificuldade em conviver com as centopeias. Ao que parece, os agradáveis bichinhos insistiam em invadir-lhe a casa, instalando-se nos locais menos esperados (incluindo, sapatos!). Ora, dizia-me a simpática colega, que tinha resolvido esse problema no dia em que tinha adquirido uma pá de ferro. Na minha inocência de pessoa que apenas consegue matar moscas, perguntei: “Pá de ferro?? Ah, percebi! Varres as senhoras centopeias para a pá e depois devolves à natureza. Certo?”A resposta foi, no mínimo assustadora. Sem pensar duas vezes, a angélica colega disse-me: “Não!!! Claro que não! Corto-as ao meio com a pá! Depois, devolvo as metades do corpo à Natureza”. Assumo que fiquei algo preocupada com essa colega!
2.       Um segundo caso deu-se no meu regresso a casa, depois de termos ido jantar fora. Ao chegarmos (eu e a amiga com quem divido a casa) verifiquei, algo aterrorizada, que tínhamos um morcego colado à porta. Como tenho horror a esse bicho ponderei várias situações: dormir no carro; telefonar para a pessoa que nos tinha oferecido o jantar e implorar para dormir no sofá dela; acordar o senhorio e suplicar-lhe que viesse à rua afastar a criatura demoníaca. Enquanto pensava nas possibilidades, a minha colega saiu do carro e calmamente pegou na mangueira e encharcou o animal até que o desgraçado caiu (depois de lutar com toda a força e garra que tinha!) desamparado no chão! Estou convencida que a criatura do demónio terá morrido e que algum gato de rua lhe tomou conta do corpo!
3.       Um terceiro caso passou-se com um simpático aracnídeo chamado carraça. Uma colega que tinha estado a dar aula no campo, tendo comparecido à reunião num final de tarde, apercebeu-se , simultaneamente assustada e enojada, que uma carraça se lhe passeava no corpo. Ao sacudi-la o bicho caiu em cima da mesa de trabalho. Todos ficaram em choque. Seguiu-se ao choque a urgência de matar o perigoso animal! Como, perguntámos nós?! Queimamo-lo, gritaram várias vozes em uníssono! E foi isso que aconteceu!! De um modo sádico, aproximaram um isqueiro daquele ser vivo e, qual Inquisição, começaram por lhe queimar as patas! Depois, perceberam que continuava viva e queimaram-lhe o resto do corpo. A carraça essa, nem tugiu nem mugiu. Mas ouvi dizer, à mesma pessoa que encharca morcegos a meio da noite que, quando têm a bolsa de sangue, as carraças largam um alegre “pop” quando são queimadas!...Medo!!
4.       A última situação que irei aqui relatar passa-se com peixes, mais propriamente, enguias. Estando num fim de tarde pacífico a refrescar-me com uma imperial junto à barragem, começou-se a falar de pesca. Eis que fico a saber que, para pescar enguias dava jeito ter um garfo. Assumo que procurei entender a utilidade do garfo na pesca da enguia mas tive que questionar a pessoa que assim falava. Passo a explicar a sua utilidade: depois do peixe ser pescado e estar cá fora, a fim de se lhe retirar o anzol, dá jeito espetar o garfo na cabeça para imobilizar a enguia…E mais haveria para contar...Por exemplo, uma história sobre sapos..ou seriam rãs??? Mas, por ser demasiado violenta, irei remeter-me ao silêncio sobre esta história…

E é isto…todas estas pessoas são de Avis, ou cá trabalham…Questiono então o caro leitor: à luz da nova lei poderei solicitar uma indemnização a estas violentíssimas pessoas pelos danos causados à bicharada citada? Questão número 2: estarei eu a salvo? Não serão estas pessoas um bando de assassinos em série reunidos em Avis por alguma razão obscura? Aguardo respostas e contactarei o PAN logo que possível!

terça-feira, 2 de maio de 2017


A verdade sobre nós…
E a verdade é que quando deixo espaço para os meus pensamentos voarem livremente, a saudade de ti aparece. Assim, do nada, surge em coisas pequeninas, em horas perdidas, em momentos, em situações triviais.
 A verdade é que o tempo passa mas a memória de ti, fica. De ti…ou de mim? Talvez fique é a memória de um “eu” contigo. Da pessoa que eu era ao teu lado. Já não sou, claro. Todos somos alguém em função de um outro. E esse alguém que eu era contigo, esse, deixou de existir há tempos.
A verdade, e acho isso aborrecido, é que eu gostava de esse “eu” que era contigo. Acho que fazíamos um “nós” bem catita e simpático. Um “nós” apoiado naquilo que considero que deve ser a base de uma relação: a paixão, a vontade de estar, de tocar, de trocar e a presença de um sentimento que em momentos definimos como amor… Um amor que convivia, de perto, com outros sentimentos menos avassaladores e menos exigentes: uma amizade à prova de bala, um companheirismo sem falhas, uma vontade de caminhar lado a lado procurando atingir os sonhos de um e outro. Esse era o “nós” que eu desenhava…penso que não estarei enganada nesse retrato que pinto.
A verdade é que tenho saudades dos sonhos sonhados, dos objetivos traçados, das expetativas criadas. Quando existe um “nós”, ou, melhor falando, a ideia de um “nós”, é impossível não existirem esses sonhos de futuro mais ou menos próximos em que tudo estará como almejamos. É impossível não sonharmos com o futuro cor-de-rosa em que “tudo está bem, quando acaba bem”.
A verdade é que sinto que ficámos com uma data de manhãs por viver, uma data de dias por celebrar, uma data de noites por agradecer. Ficámos com uma possibilidade de vida pendente, com a sensação que existia um caminho alternativo para ser trilhado e que o mesmo não foi…
A verdade é que tenho saudades de um futuro que não aconteceu, de um “nós” que não se concretizou, não se viveu.
A verdade…a verdade é que sei que a memória do coração é traiçoeira. Apaga o que foram maus momentos e apenas te deixa com os bons. Adultera as tuas memórias, deixando apenas uma imagem romanceada de tudo o que se passou…
Por isso, a verdade é que nos meus momentos mais cínicos e realistas percebo que sempre estivemos destinados a “não ser”, a “não acontecer”. Apesar de tudo o que anteriormente foi dito, percebo que não haveria entendimento possível entre duas almas tão diferentes, entre uma alma tão resignada e acomodada e uma alma com tanta vontade de viver para além das regras e das convenções.
Mas a verdade é que há dias de otimismo, esperança e fé. E esses dias são aqueles dias que trazem a saudade de ti. Que trazem as memórias boas e que te fazem pensar num “e se?” Dias que fazem aflorar um sorriso aos meus lábios quando ouço uma música que me faz lembrar de ti ou de nós.
A verdade…a verdade é que os dias cínicos e realistas são bem mais do que os de otimismo e fé. E por isso a frase de Júlio Cortázar me faz tanto sentido nesta situação “Porque te quise, te quiero, aunque estemos destinados a no ser”…
Algumas coisas não estão destinadas a acontecer…contudo…tenho saudades do que poderia ter sido…