Entrou em vigor, no dia 1 de maio deste ano, o novo estatuto jurídico dos
animais. De acordo com esta lei os animais são reconhecidos como seres vivos
dotados de sensibilidade e são objeto de proteção jurídica.
Ainda de acordo com a nova lei em vigor, ficam os cidadãos de Portugal a
saber que quem agredir ou matar um animal ficará obrigado a indemnizar o
proprietário ou as pessoas que tenham procedido ao seu socorro pelas despesas
em que tenham incorrido para tratar o animal.
Quem me conhece, nem que seja um pouquinho, saberá que fiquei extramente
contente com esta nova lei. Saberá que concordo com ela nos seus aspetos mais
significativos. Claro que muito ainda há a fazer na questão dos direitos dos
animais e muito mais há a questionar. Deixo no ar, por exemplo, a questão das
touradas e a questão dos animais no circo (Questões que, por serem tão
polémicas, deixarei para outro dia). O que quero questionar hoje é se nesta lei
estão contemplados aranhas, centopeias, morcegos e peixes. Perguntar-se-á,
neste momento o caro leitor (momento em que me sinto um Almeida Garrett, um
Machado de Assis, ou qualquer outro autor que aprecia dirigir-se ao “seu
leitor”) o porquê dessa minha preocupação com o grupo por mim denominado: “o
grupo dos aracnídeos e artrópodes, dos morcegos e dos peixes”. E responderei
eu, caro leitor, que nesta minha estadia por Avis tenho conhecido pessoas que,
numa primeira abordagem me parecem pessoas calmas e sociáveis mas que, em
determinados momentos, se têm apresentado como possíveis assassinos em série.
Passo a explicar alguns dos casos:
1. Estando eu a conversar
com uma colega durante um simpático almoço, em que o foco da conversa era o
gosto de viver no campo, informou-me a mesma que tinha tido extrema dificuldade
em conviver com as centopeias. Ao que parece, os agradáveis bichinhos insistiam
em invadir-lhe a casa, instalando-se nos locais menos esperados (incluindo,
sapatos!). Ora, dizia-me a simpática colega, que tinha resolvido esse problema
no dia em que tinha adquirido uma pá de ferro. Na minha inocência de pessoa que
apenas consegue matar moscas, perguntei: “Pá de ferro?? Ah, percebi! Varres as
senhoras centopeias para a pá e depois devolves à natureza. Certo?”A resposta
foi, no mínimo assustadora. Sem pensar duas vezes, a angélica colega disse-me:
“Não!!! Claro que não! Corto-as ao meio com a pá! Depois, devolvo as metades do
corpo à Natureza”. Assumo que fiquei algo preocupada com essa colega!
2. Um segundo caso deu-se
no meu regresso a casa, depois de termos ido jantar fora. Ao chegarmos (eu e a
amiga com quem divido a casa) verifiquei, algo aterrorizada, que tínhamos um
morcego colado à porta. Como tenho horror a esse bicho ponderei várias
situações: dormir no carro; telefonar para a pessoa que nos tinha oferecido o
jantar e implorar para dormir no sofá dela; acordar o senhorio e suplicar-lhe
que viesse à rua afastar a criatura demoníaca. Enquanto pensava nas
possibilidades, a minha colega saiu do carro e calmamente pegou na mangueira e
encharcou o animal até que o desgraçado caiu (depois de lutar com toda a força
e garra que tinha!) desamparado no chão! Estou convencida que a criatura do
demónio terá morrido e que algum gato de rua lhe tomou conta do corpo!
3. Um terceiro caso passou-se
com um simpático aracnídeo chamado carraça. Uma colega que tinha estado a dar
aula no campo, tendo comparecido à reunião num final de tarde, apercebeu-se ,
simultaneamente assustada e enojada, que uma carraça se lhe passeava no corpo.
Ao sacudi-la o bicho caiu em cima da mesa de trabalho. Todos ficaram em choque.
Seguiu-se ao choque a urgência de matar o perigoso animal! Como, perguntámos
nós?! Queimamo-lo, gritaram várias vozes em uníssono! E foi isso que
aconteceu!! De um modo sádico, aproximaram um isqueiro daquele ser vivo e, qual
Inquisição, começaram por lhe queimar as patas! Depois, perceberam que
continuava viva e queimaram-lhe o resto do corpo. A carraça essa, nem tugiu nem
mugiu. Mas ouvi dizer, à mesma pessoa que encharca morcegos a meio da noite
que, quando têm a bolsa de sangue, as carraças largam um alegre “pop” quando
são queimadas!...Medo!!
4. A última situação que
irei aqui relatar passa-se com peixes, mais propriamente, enguias. Estando num
fim de tarde pacífico a refrescar-me com uma imperial junto à barragem, começou-se
a falar de pesca. Eis que fico a saber que, para pescar enguias dava jeito ter
um garfo. Assumo que procurei entender a utilidade do garfo na pesca da enguia mas
tive que questionar a pessoa que assim falava. Passo a explicar a sua
utilidade: depois do peixe ser pescado e estar cá fora, a fim de se lhe retirar
o anzol, dá jeito espetar o garfo na cabeça para imobilizar a enguia…E mais
haveria para contar...Por exemplo, uma história sobre sapos..ou seriam rãs???
Mas, por ser demasiado violenta, irei remeter-me ao silêncio sobre esta
história…
E é isto…todas estas
pessoas são de Avis, ou cá trabalham…Questiono então o caro leitor: à luz da
nova lei poderei solicitar uma indemnização a estas violentíssimas pessoas
pelos danos causados à bicharada citada? Questão número 2: estarei eu a salvo?
Não serão estas pessoas um bando de assassinos em série reunidos em Avis por
alguma razão obscura? Aguardo respostas e contactarei o PAN logo que possível!
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