E a verdade é que quando deixo
espaço para os meus pensamentos voarem livremente, a saudade de ti aparece.
Assim, do nada, surge em coisas pequeninas, em horas perdidas, em momentos, em
situações triviais.
A verdade é que o tempo passa mas a memória de
ti, fica. De ti…ou de mim? Talvez fique é a memória de um “eu” contigo. Da
pessoa que eu era ao teu lado. Já não sou, claro. Todos somos alguém em função
de um outro. E esse alguém que eu era contigo, esse, deixou de existir há
tempos.
A verdade, e acho isso
aborrecido, é que eu gostava de esse “eu” que era contigo. Acho que fazíamos um
“nós” bem catita e simpático. Um “nós” apoiado naquilo que considero que deve
ser a base de uma relação: a paixão, a vontade de estar, de tocar, de trocar e
a presença de um sentimento que em momentos definimos como amor… Um amor que
convivia, de perto, com outros sentimentos menos avassaladores e menos
exigentes: uma amizade à prova de bala, um companheirismo sem falhas, uma vontade
de caminhar lado a lado procurando atingir os sonhos de um e outro. Esse era o
“nós” que eu desenhava…penso que não estarei enganada nesse retrato que pinto.
A verdade é que tenho saudades
dos sonhos sonhados, dos objetivos traçados, das expetativas criadas. Quando
existe um “nós”, ou, melhor falando, a ideia de um “nós”, é impossível não
existirem esses sonhos de futuro mais ou menos próximos em que tudo estará como
almejamos. É impossível não sonharmos com o futuro cor-de-rosa em que “tudo
está bem, quando acaba bem”.
A verdade é que sinto que ficámos
com uma data de manhãs por viver, uma data de dias por celebrar, uma data de
noites por agradecer. Ficámos com uma possibilidade de vida pendente, com a
sensação que existia um caminho alternativo para ser trilhado e que o mesmo não
foi…
A verdade é que tenho saudades de
um futuro que não aconteceu, de um “nós” que não se concretizou, não se viveu.
A verdade…a verdade é que sei que
a memória do coração é traiçoeira. Apaga o que foram maus momentos e apenas te
deixa com os bons. Adultera as tuas memórias, deixando apenas uma imagem
romanceada de tudo o que se passou…
Por isso, a verdade é que nos
meus momentos mais cínicos e realistas percebo que sempre estivemos destinados
a “não ser”, a “não acontecer”. Apesar de tudo o que anteriormente foi dito,
percebo que não haveria entendimento possível entre duas almas tão diferentes,
entre uma alma tão resignada e acomodada e uma alma com tanta vontade de viver
para além das regras e das convenções.
Mas a verdade é que há dias de
otimismo, esperança e fé. E esses dias são aqueles dias que trazem a saudade de
ti. Que trazem as memórias boas e que te fazem pensar num “e se?” Dias que
fazem aflorar um sorriso aos meus lábios quando ouço uma música que me faz
lembrar de ti ou de nós.
A verdade…a verdade é que os dias
cínicos e realistas são bem mais do que os de otimismo e fé. E por isso a frase
de Júlio Cortázar me faz tanto sentido nesta situação “Porque te quise, te quiero, aunque estemos destinados a no ser”…
Algumas coisas não estão
destinadas a acontecer…contudo…tenho saudades do que poderia ter sido…
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