"Um dia de sol é tão bonito como um dia de chuva..." - A. Caeiro
Estamos em maio…e apesar de o sol
e o calor estarem a chegar estivemos até há poucos dias atrás com tempo de
“abril, águas mil”. Não poderei dizer que isso me agrade muito. A verdade é que
não me agrada nem um pouco. Sempre ouvi dizer que as pessoas que nasceram nos
meses frios gostam de chuva e frio. Logicamente, quem nasceu nos meses de
verão, gostará de calor e sol. E a verdade é que este conhecimento comum bate
certo se pensar em mim e na minha irmã. Sendo a minha irmã uma nascida em
outubro, é uma grande apreciadora das golas altas, do frio e dos cachecóis. Já
eu, que sou a mulher de junho, sou uma apaixonada do chinelo, das alças e do
calor a aquecer-me as costas enquanto caminho. Como tal, obviamente, só poderia
odiar dias de chuva. Quem pode gostar daqueles dias sombrios, húmidos,
desagradáveis? Quem poderá ficar bem-disposto quando acorda, coloca o nariz de
fora e percebe que o dia está chuvoso? Dizem que há pessoas que gostam
disso…tenho cá para mim que só poderão ser pessoas estranhas com graves problemas
por resolver! Abdicando das ironias, o certo é que eu prefiro os dias de sol e
tenho tendência a esquecer as necessidades óbvias de repor recursos hídricos e,
como tal, esquecer a necessidade extrema de existir chuva. Por minha vontade
poderia ser verão o ano inteiro, poderíamos ter temperaturas de 30 graus os
doze meses do ano e a chuva podia dar o ar da sua graça 2 a 3 vezes nos 365
dias que compõem um ano civil. Com certeza que viveria bem e feliz.
Fernando Pessoa, ou melhor, o seu heterónimo Alberto
Caeiro, escreve que “um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos
existem. Cada um é como é”. De acordo com este pensamento, há que aceitar cada
dia com o melhor que ele nos poderá oferecer, seja ele de sol ou de chuva.
Mas…eu gosto é de dias de sol. Deixam-me bem-disposta. Renovam-me a alma e a energia!
Contudo…há momentos que, por terem sido
marcados pela chuva se tornaram memoráveis e/ ou bem mais divertidos! Já por
duas vezes me aconteceu estar em Feiras Medievais e ter um encontro imediato
com a chuva. Relembro que o primeiro caso se deu em Sortelha há já alguns anos.
Foi um temporal a sério, com relâmpagos, com o dia a transformar-se em noite em
segundos…o tempo de nos abrigarmos e parecia que tínhamos levado um banho!
Voltei mais vezes a esta feira…mas esse dia é relembrado com maior nitidez. As
conversas com desconhecidos no nosso abrigo enquanto esperávamos que a chuva
passasse, as gargalhadas pós-temporal ainda que com a roupa húmida, a certeza
que finalmente és um adulto porque aprendeste a relativizar estes contratempos,
tornaram este dia memorável e inesquecível. O segundo caso aconteceu aqui no
Alentejo. E garanto que jantar com talher de madeira, com a comida numa telha e
a chuva a cair-te em cima é algo de maravilhosamente divertido…convenhamos que
desta vez, no Alentejo, a chuva não foi muito mais que uma ameaça. À conta
disso dei por mim a pensar que a chuva não é tão negativa como à partida a
descrevi e que, muitas vezes, ela nos traz situações simpáticas, divertidas,
memoráveis, aconchegantes,… Por exemplo, quem não experimentou já a sensação de
andar à chuva e em seguida chegar a casa e tomar um banho quente? Haverá alguém
que não goste de ouvir a chuva cair enquanto lancha umas belas torradas (se
forem de lume, ainda melhor) e bebe um chá quente? Quem não se espreguiçou com
gosto quando, no quentinho da sua cama, ouviu que, lá fora, havia um dilúvio? E
passar um domingo a tarde a “sofazar”, vegetando no sofá a ver um daqueles
filmes de domingo à tarde enquanto na rua está chuva e frio? Ler, à lareira,
enquanto “no resto do mundo” chove, com o teu animal de estimação aos pés é uma
verdadeira terapia! Ser conduzida, num dia de chuva, naquele ambiente quentinho
e aconchegante do carro, enquanto se ouve uma boa música é algo que adoro! E as
trovoadas de verão? Quem não saiu de propósito de casa, ao ver cair uma
trovoada de verão, para poder sentir a chuva na pele? Por fim…quem nunca deu um
beijo à chuva porque tinha visto num filme e tinha achado extremamente
romântico? (Apesar da maioria das pessoas que conheço terem detestado a
experiência).
Volto a dizer: sou uma mulher que
precisa de sol, que adora a energia que ele lhe transmite. Mas a verdade é que
também preciso da chuva, de quando em vez, e que ela tem o seu encanto. A verdade
é que existem muitas situações que me sabem bem melhor quando está um dia de
chuva… A verdade é que preciso da chuva para dar valor ao sol. Haverá algo mais
bonito que ver o sol brilhar depois de uma chuvada? Haverá algo mais bonito que
um perfeito arco-íris?
Concluo que sou uma antítese
constante, sou chuva e sol: é o sol que me energiza. É o sol que me faz querer
sair. É ele que me deixa bem-disposta. Mas a chuva transforma-me na mulher mais
caseira, na mulher do aconchego, na mulher mais serena e ponderada. Se por um
lado, e como diz a célebre frase “a chuva não me assusta que eu sou feita de
sol”, também sei, por outro lado, que se queres um arco-íris terás de enfrentar
a chuva. É através dele que percebemos que a vida tem as cores que a gente pinta:
cor de chuva, cor de sol…ou, bem melhor, as cores do arco-íris, que resultam de
uma mistura dos dois.
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