domingo, 14 de maio de 2017

O 5º Império

Penso que todos já terão ouvido falar, de um modo mais ou menos geral, no mito do 5º império. O surgimento deste mito remonta, imagine-se, à Bíblia tendo sido aproveitado ao longo dos tempos por vários pensadores e escritores, servindo a causa que mais lhes fazia sentido à época.
Aqui no nosso cantinho, em Portugal, o mito do 5º império foi abordado, sobretudo, por Bandarra, nas “Trovas do Bandarra”, pelo Padre António Vieira, em “História do Futuro” e por Pessoa em a “Mensagem”.
Bandarra, nas suas profecias, vaticinava não só o regresso de D. Sebastião, o “Encoberto” como previa o futuro de Portugal como reino universal.
Mais tarde, o Padre António Vieira na sua “História do Futuro” considerava que depois dos grandes impérios da Babilónia, Pérsia, Grécia e Roma, iria chegar ao mundo o Império Universal Cristão, o tal Quinto Império e que esse império seria liderado pelo rei de Portugal.
Chegados a Pessoa e à sua “Mensagem”, o 5º império assume umas novas roupagens. Não só os 4 impérios anteriores não são, para ele, os já citados (para Pessoa os 4 impérios caídos eram a Grécia, a Roma antiga, o Cristianismo e a Europa das Luzes e do Renascimento) como este 5º império seria puramente espiritual. Este novo império iria resgatar Portugal da decadência em que se encontrava, transformando o país numa potência que reinaria sobre as outras. Mas esta potência não reinaria sobre as outras em termos políticos e económicos mas seria um império de fraternidade universal, cultura e língua portuguesas.
Ontem dei por mim a pensar que poderia ser isto? Poderíamos finalmente dar razão ao Pessoa e perceber que o 5º império se está a iniciar pé ante pé? Têm acontecido a este pequeno país à beira mar plantado alguns momentos maravilhosos que me fazem pensar sobre o assunto. Para mim, tudo se inicia quando se dá o reconhecimento mundial da inegável qualidade de José Saramago ao ser-lhe atribuído o Nobel da Literatura. Já lá vão uns anos, é um facto. Mas será que alguém esqueceu o enorme orgulho que sentimos pela atribuição deste prémio? Na época os computadores ainda não faziam parte integrante da minha vida e por isso lembro de comprar imensos jornais e guardar numa pasta todos os recortes referentes a Saramago, à sua obra e ao enorme orgulho que se sentia por este país fora.
Mais tarde, e na figura de Cristiano Ronaldo, voltei a sentir esse orgulho de ser portuguesa e de ver portugueses a cumprir o seu trabalho de forma tão exímia que eram nomeados” o melhor do mundo”. E assumo que ainda não me habituei a que ele seja, uma e outra vez, o melhor do mundo. A emoção é sempre a mesma! Estou convicta que este ano a bola de ouro será dele, mais uma vez! E mais uma vez é merecida. Sim, parece que já ouço as vozes dizer que não é o melhor do mundo. Que é um menino mimado e arrogante. Opiniões… Não entendo como se pode não gostar de alguém que levou e leva o nome de Portugal tão longe. Mas, volto a dizer, são opiniões.
E eis que surge o grande momento futebolístico. A equipa que quase todos mandavam para casa, em quem ninguém acreditava, o patinho feio transformou-se em cisne e, jogo atrás de jogo foi melhorando até conquistar o Europeu de Futebol! Nesse dia conquistámos a Europa. O país rebentou de orgulho! Tínhamos atingido o ponto a que aspirávamos há tanto tempo! E ficámos mesmo, mesmo felizes! A Europa era nossa!
Posto isto, que mais poderíamos nós desejar para este país? Penso que se a pergunta tem sido feita a todos os portugueses, ninguém se lembraria de responder:  “Vencer o Festival Eurovisão da Canção”. Era um festival brejeiro e azeiteiro, esquecido por todos. E, mais uma vez tivemos momentos inesperados e estranhíssimos. Uma ideia inovadora para o festival português (Convidar compositores para criar as músicas) e a vinda de uns irmãos Sobral que abanou tudo e todos. Muito se falou desta atuação, desta dupla, desta canção. Não vou negar que fui daquelas que não gostou desta música à partida. Já o disse aqui que primeiro estranhei o “Amar pelos dois” até que se entranhou de tal forma que não paro de a cantarolar! Pela primeira vez em mais de 20 anos (pelo menos) voltei a ver o festival da canção. Percebo tanto do festival que não sabia que havia votação dos júris e do público. A meio já eu pensava que estava ganho. Mas ganhámos mesmo! E mais uma vez o país rebentou de orgulho. Penso que, mais uma vez, os de fora perceberam mais depressa que os de cá da casa, que havia algo de muito diferente naquela música. Reconheceram-lhe a qualidade, a diferença, a arte.
Estamos inchados de orgulho com estes feitos. Andamos com um sorriso na cara. Sentimos que a nossa portugalidade está mais acordada. Sentimo-nos mais unidos. Raios, somos falados por todo o mundo. Afinal temos música da boa! Temos música que não precisa de foguetes, nem de verdadeiras encenações teatrais para ser reconhecida!

Perante isto tudo penso…Pessoa teria razão? Estaremos nós a criar um 5º Império? Serão a Mariza , a Ana Moura, os irmãos Sobral, o Cristiano Ronaldo, o Nélson Évora, o José Saramago, a Telma Monteiro, entre tantos outros os embaixadores deste 5º império?! Estará finalmente a “cumprir-se Portugal”?...Sabem que mais? Acredito que sim!

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