Penso que todos já terão ouvido
falar, de um modo mais ou menos geral, no mito do 5º império. O surgimento deste
mito remonta, imagine-se, à Bíblia tendo sido aproveitado ao longo dos tempos
por vários pensadores e escritores, servindo a causa que mais lhes fazia
sentido à época.
Aqui no nosso cantinho, em
Portugal, o mito do 5º império foi abordado, sobretudo, por Bandarra, nas “Trovas
do Bandarra”, pelo Padre António Vieira, em “História do Futuro” e por Pessoa
em a “Mensagem”.
Bandarra, nas suas profecias,
vaticinava não só o regresso de D. Sebastião, o “Encoberto” como previa o
futuro de Portugal como reino universal.
Mais tarde, o Padre António Vieira
na sua “História do Futuro” considerava que depois dos grandes impérios da
Babilónia, Pérsia, Grécia e Roma, iria chegar ao mundo o Império Universal Cristão,
o tal Quinto Império e que esse império seria liderado pelo rei de Portugal.
Chegados a Pessoa e à sua “Mensagem”,
o 5º império assume umas novas roupagens. Não só os 4 impérios anteriores não
são, para ele, os já citados (para Pessoa os 4 impérios caídos eram a Grécia, a
Roma antiga, o Cristianismo e a Europa das Luzes e do Renascimento) como este
5º império seria puramente espiritual. Este novo império iria resgatar Portugal
da decadência em que se encontrava, transformando o país numa potência que
reinaria sobre as outras. Mas esta potência não reinaria sobre as outras em
termos políticos e económicos mas seria um império de fraternidade universal,
cultura e língua portuguesas.
Ontem dei por mim a pensar que
poderia ser isto? Poderíamos finalmente dar razão ao Pessoa e perceber que o 5º
império se está a iniciar pé ante pé? Têm acontecido a este pequeno país à
beira mar plantado alguns momentos maravilhosos que me fazem pensar sobre o
assunto. Para mim, tudo se inicia quando se dá o reconhecimento mundial da inegável
qualidade de José Saramago ao ser-lhe atribuído o Nobel da Literatura. Já lá
vão uns anos, é um facto. Mas será que alguém esqueceu o enorme orgulho que
sentimos pela atribuição deste prémio? Na época os computadores ainda não
faziam parte integrante da minha vida e por isso lembro de comprar imensos
jornais e guardar numa pasta todos os recortes referentes a Saramago, à sua
obra e ao enorme orgulho que se sentia por este país fora.
Mais tarde, e na figura de
Cristiano Ronaldo, voltei a sentir esse orgulho de ser portuguesa e de ver
portugueses a cumprir o seu trabalho de forma tão exímia que eram nomeados” o
melhor do mundo”. E assumo que ainda não me habituei a que ele seja, uma e
outra vez, o melhor do mundo. A emoção é sempre a mesma! Estou convicta que
este ano a bola de ouro será dele, mais uma vez! E mais uma vez é merecida. Sim,
parece que já ouço as vozes dizer que não é o melhor do mundo. Que é um menino
mimado e arrogante. Opiniões… Não entendo como se pode não gostar de alguém que
levou e leva o nome de Portugal tão longe. Mas, volto a dizer, são opiniões.
E eis que surge o grande momento
futebolístico. A equipa que quase todos mandavam para casa, em quem ninguém
acreditava, o patinho feio transformou-se em cisne e, jogo atrás de jogo foi
melhorando até conquistar o Europeu de Futebol! Nesse dia conquistámos a
Europa. O país rebentou de orgulho! Tínhamos atingido o ponto a que aspirávamos
há tanto tempo! E ficámos mesmo, mesmo felizes! A Europa era nossa!
Posto isto, que mais poderíamos
nós desejar para este país? Penso que se a pergunta tem sido feita a todos os
portugueses, ninguém se lembraria de responder: “Vencer o Festival Eurovisão da Canção”. Era
um festival brejeiro e azeiteiro, esquecido por todos. E, mais uma vez tivemos
momentos inesperados e estranhíssimos. Uma ideia inovadora para o festival
português (Convidar compositores para criar as músicas) e a vinda de uns irmãos
Sobral que abanou tudo e todos. Muito se falou desta atuação, desta dupla,
desta canção. Não vou negar que fui daquelas que não gostou desta música à
partida. Já o disse aqui que primeiro estranhei o “Amar pelos dois” até que se
entranhou de tal forma que não paro de a cantarolar! Pela primeira vez em mais
de 20 anos (pelo menos) voltei a ver o festival da canção. Percebo tanto do
festival que não sabia que havia votação dos júris e do público. A meio já eu
pensava que estava ganho. Mas ganhámos mesmo! E mais uma vez o país rebentou de
orgulho. Penso que, mais uma vez, os de fora perceberam mais depressa que os de
cá da casa, que havia algo de muito diferente naquela música. Reconheceram-lhe a
qualidade, a diferença, a arte.
Estamos inchados de orgulho com
estes feitos. Andamos com um sorriso na cara. Sentimos que a nossa
portugalidade está mais acordada. Sentimo-nos mais unidos. Raios, somos falados
por todo o mundo. Afinal temos música da boa! Temos música que não precisa de
foguetes, nem de verdadeiras encenações teatrais para ser reconhecida!
Perante isto tudo penso…Pessoa
teria razão? Estaremos nós a criar um 5º Império? Serão a Mariza , a Ana Moura,
os irmãos Sobral, o Cristiano Ronaldo, o Nélson Évora, o José Saramago, a Telma
Monteiro, entre tantos outros os embaixadores deste 5º império?! Estará
finalmente a “cumprir-se Portugal”?...Sabem que mais? Acredito que sim!
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