domingo, 30 de abril de 2017



“Há palavras que nos beijam”* …e há outras…"
A língua portuguesa é a língua, obviamente, utilizada pelos que vivem neste país à beira mar plantado mas é também a língua utilizada por brasileiros, muitos africanos e alguns asiáticos. É uma língua falada por muitos, sendo, pelo que vou ouvindo por aí, a 6ª língua mais falada no mundo. É, por exemplo, uma língua mais falada que o francês. Sou suspeita porque sou portuguesa, é claro, mas é, quanto a mim, uma língua bonita e melodiosa. Há línguas que têm um som agressivo para os nossos ouvidos. Não querendo ferir susceptibilidades, poderia referir, a título de exemplo, o francês e o alemão. O francês nalgumas palavras e o alemão em quase todas, deixam a sensação que os falantes têm algo entalado que lhes arranha a garganta…aquilo soa muito mal, convenhamos! São línguas agressivas para o falante e agressivas para o ouvinte!
Mas, hoje não queria comparar línguas nem falar na questão de umas serem mais melodiosas que outras. Queria mesmo falar do português e de algumas palavras com as quais tenho uma pequena inquietação e outras, pelo contrário, com as quais possuo grande apreço. Penso que isso acontece com toda a gente.
Vejamos: há palavras que soam tão bem que não poderiam significar realidades tão pouco simpáticas. Por exemplo: “burrié”. Para mim esta palavra poderia significar um qualquer marisco apetecível ou até uma tonalidade. Reparem: “Estive na marisqueira e comi “burrié” e percebes”. Não soa bem?! Ou: “trazia umas lindas calças num tom “burrié” magnífico”. Nada nos prepara nessa palavra para o seu verdadeiro sentido: monco, ranho, ranhoca (Essas sim, palavras dignas para a substância em causa!) Mas há outras: o cotonete! Palavra tão simpática que deveria ser utilizada em outra coisa que não fosse um instrumento para limpar cavidades!! “Queres um cotonete? Tenho doces e salgados?” E tratar alguém de “biltre”? Quem não conhecer o significado acreditará que está a ser elogiado e não a ser tratado de sacana! “Alvanéu”? Tenho a ideia que se disser a um pedreiro que é um alvanéu o senhor vai ficar ofendido a achar que terei posto em causa a sua masculinidade. Contudo, são palavras sinónimas…E eu acho “alvanéu” uma palavra bem bonita! “Perdigoto” e “Borborigmo” também são palavras que me soam bem. Perdigoto poderia ser qualquer coisa para comer: “Comi um perdigoto assado que era do além!”Contudo, estou a referir-me a algo tão bom como salpicos de saliva! E “borborigmo”? Quanto a mim, poderia ser o nome de um novo tipo de dança: junto à quizomba…o borborigmo! Mas não!! Tinha que ter como significado o ruído dos gases nos intestinos! Que desperdício de palavra!!
Por outro lado, há palavras que me soam bem e têm significados simpáticos! Adoro a palavra “Resiliência”! Soa-me bem e adoro o seu significado! Ser patusco é ser bem-disposto e divertido. A palavra dá logo essa ideia. E fazer um “cafuné”? Sim, é uma palavra do português do Brasil mas…não é tão bonita? Não está tão de acordo com a ação que representa? A simples palavra transmite essa ideia de repouso, de relaxamento que o cafuné provoca. E dizer que se é um “sommelier”? Caramba, não soa nada a ser professor ou advogado. É diferente! Eu gosto. Ah, significa que se é um profissional especializado em vinhos! Distinto, não é?!
Depois, há aquelas palavras que são feias e que estão de acordo com a realidade a que se referem. Palavras como “escarro” (com a popular alteração ainda mais feia “escarreta”), “varejeira”, “lodo”, “réptil”, “putrefato”, “furúnculo” não despertam em nós logo uma sensação de asco? E um “algoz”? Não é a palavra certa para um carrasco?! Feia que dói. Soa mal! Nessa categoria acrescentaria ainda o “onicófago”. Roer as unhas é efetivamente algo feio mas o nome que deram às pessoas que têm esse vício é mesmo medonho!
Por fim, queria falar ainda de palavras feias mas que transmitem realidades inocentes e/ ou bonitas. Por exemplo: o “minuete”. Palavra feia para nomear uma dança! “Dançou um minuete com o senhor José”, não soa nada bem! E um “algeroz”? Mais parece uma palavra para adjetivar um assassino! Mas não, apenas se refere a uma simples caleira! “Pertinácia e pervicácia” (ser pertinaz, persistente) são, quanto a mim, qualidades. Mas esta palavra faz-me pensar num submundo de sevícias ou castigos! O jovem que é “fleumático” apenas é paciente. No entanto, a palavra dá-me ideia que estamos a falar de uma pessoa “anafadinha”, gordinha…não me perguntem porquê. “Pândego” também me soa mais a ofensa do que a uma condição de “ser alegre”. E ter um “solilóquio”? Soa quase a ter uma apoplexia, um AVC e não apenas um monólogo! Para acabar, uma palavra terrível para algo tão comum. Uma fita estreita de algodão chama-se “nastro”! Facilmente usaria essa palavra numa frase como “deixou um nastro de destruição”!!
Estas são apenas algumas das palavras de que me lembrei. Com certeza que haverá muitas mais, e que cada um dos que lerem este texto terá os seus próprios ódios de estimação. Despeço-me com muitos “ósculos” (Faltava esta pérola!) aos que tiveram a simpatia de lerem estas linhas.
*"Há Palavras que nos Beijam" - Alexandre O'Neil
"hapalavrasquenosbeijam;

segunda-feira, 24 de abril de 2017



Do Alentejo à Covilhã…pensamentos…
A minha vida (sobretudo a profissional) tem-me obrigado a mudar imensas vezes de casa, qual caracol com a casa às costas, vivendo por períodos, mais ou menos longos, em várias cidades (ou até vilas) do país. Assim, num rápido, relembro que já vivi em Coimbra onde estudei, trabalhei e vivi alguns dos melhores tempos e mais marcantes da minha vida. Trabalhei, ainda, na Figueira da Foz, em Aguiar da Beira, em Coja (perto de Arganil), em Estremoz, no Entroncamento, em Campo Maior, em Albufeira, Santarém, Tomar, Portalegre e, ultimamente, em Avis (e penso que estarei a esquecer alguma escola e alguma cidade). Sim, isto poderia ser visto por um prisma negativo mas isso não faz parte da minha forma de ser. A verdade é que, passado um período de adaptação – que cada vez mais é menor com o decorrer dos anos – passo a sentir aqueles locais como um pouco meus. Por isso costumo dizer que sempre que acaba um ano letivo e volto para casa, um pouquinho do meu coração ficou nos locais onde vivi, nos locais que visitei e com as pessoas que conheci. Por isso deverei considerar-me uma sortuda por ter um coração tão grande!
Contudo, há uma dessas zonas que tem um cantinho cada vez maior no meu coração. A razão mais óbvia será porque já vivi em várias cidades dessa região. Efetivamente, a primeira vez que trabalhei no Alentejo foi em Estremoz (por uns 4 anos), tendo voltado mais tarde para trabalhar em Campo Maior, uns anos depois, em Portalegre e, atualmente, Avis. Mas, sinto-me tentada a dizer que não será isso. Existe uma ligação entre mim e o Alentejo que não será fácil de entender mas que se sente. Apesar de concorrer a boa parte do país, a verdade é que a sorte tem-me trazido mais vezes para esta zona. E a verdade é que fico feliz quando isso acontece. Se acreditasse em outras vidas diria, com toda a certeza, que em outra vida terei sido alentejana. Identifico-me com as pessoas. Algumas das minhas grandes amizades foram feitas aí. E não tenho dúvidas que irão perdurar. Adoro a sua gastronomia: as migas, as açordas, as sopas de tomate, as sopas de cação… tudo é maravilhoso! A paisagem é para lá de fabulosa quando a primavera aparece. Muitas vezes essa paisagem obriga-nos a parar o carro ou a abrandar o passo para a apreciar com todo o tempo que ela nos merece. Não é uma paisagem que se limita a ser bela na primavera. No verão continua a ser maravilhosa. Aquelas planícies a perder de vista tingidas em vários tons de amarelo são fantásticas. O Alentejo é lindo e sinto-me cada vez mais em casa quando por lá estou. Se tivesse que escolher um outro local que não a minha Covilhã para viver, sem dúvida que essa zona seria a escolhida.
Mas…e há sempre um más…nada supera a minha cidade. Aquele sentimento que se tem, quando se acaba de atravessar os túneis da Gardunha e a paisagem que nos surge pela frente é a da minha cidade neve, é inexplicável. Penso que não serei a única a ter aquele sentimento aconchegante, quentinho, quando se sai do túnel, que é o de sentir que a viagem está a terminar e que se está em casa. É verdade que ainda falta uma vintena de quilómetros para chegar mas é naquela saída, com a visão lá no alto da minha cidade luz que sentimos que chegamos a casa. E é nesse momento que percebo que, por melhor que me sinta no Alentejo, por mais que sinta que existe uma ligação, no mínimo estranha, com aquela região (pontuada imensas vezes por sensações de “déjà-vu” )a minha casa, o local onde melhor me sinto, nunca deixará de ser aqui o meu cantinho da Covilhã. Sempre que aqui chego compreendo que preciso da minha Cidade Luz (sim, a cidade luz é Paris mas para mim a Covilhã é “A minha cidade luz!”) para respirar fundo, a plenos pulmões, largar todas aquelas coisas que se foram acumulando nos ombros e no peito e recuperar forças. Não nasci aqui. Nem os meus pais nasceram cá, estando as suas raízes ligadas a aldeias perto de Castelo Branco. Portanto, não posso dizer que as minhas raízes sejam covilhanenses. Contudo, vivo cá há muitos anos. E portanto, considero-me covilhanense de alma e coração. Adoro a cidade em si. A paisagem é completamente diferente da paisagem alentejana mas é igualmente maravilhosa e…avassaladora! Muita da minha história está gravada nas ruas da Covilhã e por isso tenho um sentimento de pertença. Enche-me de orgulho ouvir alguém falar bem da minha cidade, ouvir dizer que a visitou e que gostou desta ou daquela paisagem, desta ou daquela pintura de rua, que gostou do Pelourinho e que apreciou as nossas bolachas de cerveja.
Se tivesse que escolher um outro local para viver, não tenho dúvidas que esse local estaria situado depois da passagem da Barragem do Fratel. Aí se iniciam as terras de “além Tejo” e é verdade que sinto uma estranha ligação a essas terras. Nutro uma simpatia pelo Alentejo única. Gosto das suas terras e das suas gentes. Mas, a verdade é que só na minha cidade neve é que me sinto completa. Apenas na minha cidade luz sinto que posso sentar e descansar…e apreciar o dia a terminar. É aqui que alma e coração encontram a sua paz.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Penso que era Shakespeare quem dizia que “À luz do tempo, toda a tragédia, à exceção da morte, vira comédia”. No ano passado tive várias situações que, não sendo totalmente trágicas, tinham alguns apontamentos de tragédia. E sem dúvida que hoje olho para trás e vejo isso como uma enorme comédia que deu lugar a grandes gargalhadas. A minha estadia no Cortiçô Palace foi, efetivamente uma tragicomédia que relembro com (quase) saudade!
O ano letivo transato tive menos sorte que o habitual nas colocações profissionais que o habitual e acabei por ter de trabalhar em várias escolas diferentes. Na última escola onde trabalhei, iniciei as minhas funções em junho! Não sendo propriamente às portas da Covilhã, precisava de casa para pernoitar. Quando questionei a escola (a direção) sobre a facilidade em arrendar casas/ quartos por lá, prontamente me responderam que não havia problema uma vez que existia uma “Residência de Professores” (Nome pomposo!). Considerei a ideia interessante ainda que temesse que, numa altura dessas, já não houvesse quartos livres (ó quão enganada eu estava!)
Depois das formalidades necessárias e de conhecer a escola, um colega (digamos que seria o administrador da dita “residência”) prontificou-se a apresentar-me a dita. Pelo caminho foi-me informando (e hoje sei, preparando) para o tipo de casa e para o estado de conservação da mesma. Comecei a ficar ligeiramente receosa mas, tentando chamar-me à razão pensei: “What a hell! Se há colegas que vivem lá, eu não sou uma mulher cheia de manias, hei-de viver lá, também, sem problemas de maior! Deve estar a pintar isto de uma forma pior do que o que realmente é!”
Nunca esquecerei a primeira imagem que tive da “mansão”: um jardim bonito e grande (raro, no meio de uma cidade)…completamente abandonado, adquirindo um ar de jardim com lápides como aparece nos filmes de terror! Ajudando esta minha ideia, a presença de um gato de raça siamesa. Isso deveria ser um fator positivo, eu adoro gatos. Mas o desgraçado do felino tinha um ar tão velho e doente que ajudava a todo aquele ar de mansão abandonada e assombrada.
Subimos as escadas e fui assaltada por um ligeiro cheiro a bolor que ainda me assustou mais! Ainda assim, e corajosamente, segui em frente! Fui apresentada a um dos melhores quartos (palavras do meu “guia”) uma vez que era dos mais espaçosos. Nem uma ponta de humidade (coisa rara nos outros quartos, descobri mais tarde). Bem no centro, uma caminha tão baixinha que, quando me sentei nela, fiquei com os joelhos colados ao pescoço! Uma mesinha (-inha) de trabalho. A companhia de um beliche que acabou por me servir de mesa de apoio! Desencantaram, num outro quarto, lindas mesinhas de cabeceira. Um armário de parede de 3 portas (qual closet!)só para mim! Uma vista direta para o jardim (Vista que não era interrompida nem por cortinas, nem por persianas, uma vez que o quarto não as tinha!) E era esta a minha suite! Escolhi ficar!
O resto da casa era fabuloso: umas casas de banho dignas de um castelo: 5 sanitas! 5 cabines de duche! Uns 10 lavatórios, cada um adornado com o seu próprio espelho (o que permitia que visses o teu reflexo de todo e qualquer ângulo! O que se torna sinistro à noite mas…) Ok, eram para uso de todos os que estavam na Residência mas que interessa isso?
A cozinha era fantástica! Dava para as 3 pessoas que lá moravam jantarem juntas! (Que interessa que a casa tivesse una 20 quartos?) A servir de fogão, uma (sim, só uma, placa elétrica!) Mas também, quem precisa de cozinhar quando os armários têm espaço para pouco mais que chá e cereais?
Lindos, os corredores! Enormes e escuros, mais uma vez, como nos filmes de terror. Ao longo do corredor, imensas portas fechadas (os vários quartos desabitados!) Um segundo andar também ele desabitado. Tudo isso ajudava a alguma sensação de terror, sobretudo quando estava sozinha na mansão!
Mas era uma “casinha” acolhedora. Quentinha. Uns 40 graus com facilidade. Se não mais! A pequena sala de estar, adornada com dois sofás afundados na sua própria miséria, e uma televisão pequenina, pequenina, servia de sala de estar e sauna! Era de facto uma sala quente que doía!
Portanto, o meu filme de terror tinha tudo para acontecer. Batizamos a casa com o pomposo nome de “Cortiçô Palace”. Contudo, tenho belas memórias desse casarão! Nele passei momentos hilariantes (Como aquele em que fiquei fechada fora do meu próprio quarto, com a chave do lado de dentro) ou o momento em que “inventei” técnicas de arrefecimento da casa: garrafas geladas em frente de um termoventilador! Momentos de grande companheirismo (nas conversas tidas à varanda ou nos quartos das outras colegas) e que conseguiram criar um laço de amizade que se mantém para além do tempo e do espaço.

Do Cortiçô Palace ficou a presença de pessoas excecionais que tornaram os meus dias por aquele Alentejo bem mais simpático e divertido. Ficaram enormes gargalhadas. Momentos únicos relembrados sempre que nos encontramos (Como qualquer bom tuga, à volta de uma mesa!) Podíamos ter vivido aquela casa como uma verdadeira tragédia. Mas escolhemos tirar o que de melhor ela nos podia oferecer, sentindo-nos privilegiadas por ter essa experiência de vida e criámos uma comédia que ainda hoje é relembrada, sempre que nos encontramos, com grandes risadas! Relembrando uma máxima da fantástica série “This is Us”, pegámos em algo que era, no início, amargo e transformámo-la em algo parecido a uma limonada!

segunda-feira, 10 de abril de 2017

As Pessoas Sensíveis
Existe um fantástico poema da Sophia de Mello Breyner Andresen, intitulado “As pessoas sensíveis”. Não sendo meu propósito analisar esse poema hoje (ainda que aconselhe vivamente que o leiam!) irei apenas referir que, nele, Sophia denuncia aqueles que ela considera hipócritas, que sugam o trabalho dos outros e que se apresentam, a nível religioso, cheios de devoção. E é sobre pessoas hipócritas que hoje me apetece tecer alguns comentários. Não propriamente aqueles que vivem do trabalho dos outros e que se apresentam como “falsos santos” mas daqueles que me sugam um pouco de vida, bem-estar e até de alegria pela sua forma de estar e de ver a vida e por se apresentarem como, também eles, “falsos santos”.
A nossa vida está recheada de pessoas hipócritas. As pessoas de que vou falar consideram, normalmente, que ocupam uma certa posição na sociedade e que desempenham um certo papel nela. Tenho por hábito identifica-los com uma imagem que me ficou das minhas aulas de história: o baixinho e gordo pequeno-burguês. Claro que é apenas uma imagem fictícia e que muitos dos que identifico não se assemelham, fisicamente, à caracterização que acabo de fazer. Tem sobretudo a ver com uma certa forma de estar na vida. São pessoas muito “sensíveis” que se preocupam com os problemas de toda a gente e, sobretudo, com a forma de viver de cada um. Pessoas que se preocupam com a moral. Pessoas que apontam o dedo na esperança que o dedo acusador não lhes seja apontado a eles!
Não sejamos ingénuos. Não são pessoas preocupadas com a vida dos outros por serem totalmente altruístas. Nada disso. Gostam de estar aqui e ali, correr vários locais, falar com toda a gente e incluir-se em todas as conversas, quais “libelinhas” para assim ter pleno conhecimento da vida de toda a gente. Assim poderão fazer uma das coisas que mais gosto lhes dá: tecer comentários (habitualmente pouco positivos) sobre toda a gente.
São pessoas que raramente dizem o que pensam sobre um assunto. Dizem o que se espera que eles digam. Por isso tentam nunca entrar em conflito com ninguém. É claro que, pelas costas, outro galo cantará. Munidos das preciosas informações que foram recolhendo aqui e ali, irão usá-las a fim de mostrar o quão erradas são as outras pessoas e o quantos eles são corretos, vivendo pelas regras! Por isso esses “sensíveis” enchem o discurso de frases feitas como “a moral e os bons costumes”, o “apresentar-se com decoro” e outras que tais. Apontam o dedo a todos aqueles que fogem do estilo de vida que consideram correto (casamento, filhos, casa, carro e cão). Os divorciados, os solteiros, os que escolheram a profissão antes da relação, os que têm opções sexuais diferentes, os que vestem de um modo diferente, os que têm a coragem de ser e fazer diferente, entre tantos outros, são seres merecedores de desconfiança e de crítica. Afinal essa gente põe em causa o estado das coisas! O mundo pode ficar desarrumado!
OS “livres” são pessoas que não vivem de acordo com as regras pré-estabelecidas. O grande problema para “os sensíveis” são essas pessoas que decidiram ser diferentes, decidiram quebrar as regras. São corajosos que decidiram pegar a vida pelos cornos, como se de um touro se tratasse, e que não aceitam que ela, a vida, lhes dê menos do que eles merecem. Não se acomodam. Por isso têm coragem de lutar pela felicidade nem que essa felicidade implique mudar de vida, mudar de cidade ou país, divorciar…Vivem pelo que acham correto e provam que o mundo é cheio de cor. E isso afronta os “sensíveis” que vêm o mundo a preto e branco. Para eles tudo é muito bem definido, sejam cores, sejam regras, sejam formas de viver. Claro que não poderão aceitar qualquer pessoa que lhes mostre que viver é misturar toda uma série de tons, misturar as regras e obedecer apenas à mais importante: ser feliz.
Os “sensíveis” consideram os “livres” como uma ameaça ao seu mundinho construído com tanto cuidado. Por isso o “livre” lhe causa tanta brotoeja. Esses seres cheios de liberdade podem causar brechas naquela vida de fachada. Ao estarem de bem com a vida poderão dar a entender aos outros que existem várias formas de ser feliz e que o importante é viver. Poderão dar a entender que é legítimo recusar-se a viver um dia atrás do outros sem ter outro objetivo que não seja o sobreviver a uma vida sensaborona. Poderão dar a entender que a vida é para ser vivida e não suportada. OS “livres” perceberam isso. Os “sensíveis” eventualmente terão percebido mas falta-lhes a coragem para seguir essa máxima. E é por isso que os “sensíveis” tanto criticam e apontam os dedos aos “livres”. Uns descobriram que há um caminho a trilhar, pro vezes difícil, para ser feliz. Os outros acomodaram-se a um papel que a sociedade lhes impôs. Sentaram-se a ver a vida passar e revoltam-se quando vêm alguém em grande atividade a ser feliz, à sua maneira.

O que realmente me incomoda nos “sensíveis”? O embaterem contra mim com as suas ideias pré-concebidas e roubarem-me, nem que seja por instantes, a minha paz e a minha alegria de viver…Só por isso falo neles. Voltando ao poema da Sophia citado termino dizendo: “Perdoai-lhes Senhor/ Porque eles sabem o que fazem”.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

“Ri-te sempre que puderes. É um remédio barato”  - Lord Byron
Se não tivermos em conta a primeira hora depois de acordar, aquele tempo que medeia entre acordar – tomar banho – tomar pequeno-almoço – tomar café (hora essa em que efetivamente me considero um ogre maldisposto e em que a atitude mais sensata é não me dirigir a palavra) considero que sou uma pessoa bem-disposta e bem-humorada. Acho mesmo que esta será uma das características que mais me define. Sou dona de um riso fácil e de uma gargalhada sonora. Penso que ser bem-disposto não é totalmente inato nas pessoas. Há uma parte inata e uma parte (maior) que se trabalha…penso eu.  O que sei é, e disso tenho certeza, é que ser bem-disposta é consequência de um estado de alma, de uma fé inabalável, de uma forma de olhar para a vida esperando sempre o melhor. Sou daquelas que acreditam que pensamentos positivos atraem coisas positivas. E, as poucas coisas negativas que conseguem passar por essa cortina de pensamentos positivos são filtradas pela presença constante dos gatos na minha vida (os gatos neutralizam as energias negativas!) Como tal, sou menina para acreditar que a “soma dos dias” terá sempre um saldo positivo. É claro que há dias maus. Todos os temos. Mas habituei-me a procurar algo de positivo nos momentos menos bons. Acho que isso é algo que se adquire com o passar dos anos (Somos bem mais intempestivos quando somos jovens. Temos também tendência a achar que o mundo pode acabar com qualquer problema nosso). Essa é a parte que se trabalha. Considero, também, que há uma parte inata nesse “positivismo”. Ser positivo está-nos no sangue, tem a ver com uma forma de ser muito portuguesa. O verdadeiro “tuga” considera sempre que toda e qualquer catástrofe podia sempre ser pior. O “Tuga 100%” encontra sempre uma razão para achar que teve sorte: teve um acidente de carro? Desfez o carro? Sim, mas não se partiu todo! Está um temporal e não levou chapéu-de-chuva? Que aborrecido! Mas pelo menos o carro ficou lavado! É apanhado pela GNR e é multado? Podia ser muito pior! Podias ter ficado diretamente sem carta…e o agente até era girinho!... Ver o lado positivo das coisas faz parte da nossa portugalidade e eu, sou 100% assim. Vejo sempre o lado bom das coisas. Por isso encaro todos os novos contratos em escolas como um novo desafio. Claro que é complicada esta vida cigana do hoje estou aqui, amanhã estou ali. Claro que é difícil nunca saber se vou ter emprego ou se o “temporário” que me calhou vai ser mesmo de um mês ou me vai permitir chamar de casa aquela nova cidade por alguns meses. É claro que podia revoltar-me contra isso tudo (e assumo que já fui bem revoltada!) Mas aprendi a tirar o melhor partido das situações. E por isso agradeço a oportunidade de trabalhar, agradeço a oportunidade de conhecer gente nova, agradeço a oportunidade de recomeçar…sempre.  A atitude com que se chega aos locais define a forma como os vais viver. Como referi, nem sempre fui uma pessoa tão “always look into the bright side of life”. Antes chegava às escolas acabrunhada, calada, com uma atitude meio distante de não pertença àquele local. Passava algum tempo até criar amizades e até me habituar à cidade, à escola e às pessoas. Hoje em dia chego impondo a minha satisfação por trabalhar, o meu sorriso por gostar de conhecer pessoas e locais novos e a minha gargalhada por estar de bem com a vida. E efetivamente isso altera a forma como vemos os locais e as pessoas e altera, e muito, a forma como as pessoas nos vêm. Quem joga na tua equipa, os felizes e bem-dispostos, vão-se identificar imediatamente. Facilmente crias uma rede de suporte, um grupo de amigos que te ajudam a viver o dia de modo mais positivo. Já as pessoas cinzentas, que se alimentam de ressentimentos e azedumes, essas, vão fugir de ti. Incomodas com a tua vivacidade e o teu riso fácil. Por isso considero que o bem-estar e o bom humor são uma arma pois eles afastam de ti as pessoas carregadas de energias negativas, que só te poderiam roubar o bem-estar e a felicidade. Uma arma porque essas pessoas fogem de gente que procura sacar o melhor que a vida lhes pode oferecer, de gente feliz, nem que seja “gente feliz com lágrimas” como dizia o autor.

Alfred Montapert dizia que “ O bom humor espalha mais felicidade que todas as riquezas do mundo. Vem do hábito de olhar para as coisas com esperança e de esperar o melhor, e não o pior”. Como diz a velha máxima na RFM “Vale a pena pensar nisso” ;)