O mundo divide-se, como é
comumente sabido, entre aqueles que amam os cães e aqueles que amam os gatos. E
sim, há aqueles que não gostam de nem de um nem de outro mas esses, para mim,
são pessoas estranhas e, logo, não saberia falar delas. E sim, também há
aqueles que gostam de ambos mas, bem no fundo, existe uma preferência.
Portanto, e voltando à minha máxima inicial, o mundo divide-se entre aqueles
que gostam de cães e aqueles que gostam de gatos. Eu, claramente, aprecio os
felinos mais que os cães. Os cães são demasiado dependentes, demasiado
carentes, demasiado “amo-te tanto, a minha vida sem ti não tem sentido” e isso cansa-me. Sei do que falo, porque já
tive cães. Aquele olhar deles a implorar mimos deixa-me incomodada por ter de
me ir embora. Convivo com a cadela dos vizinhos diariamente. E sempre que saio
ou chego a casa, mesmo que esteja com pressa, tenho de ir lá visitá-la, dar-lhe
um mimo. O bicho fica com aquele ar de “deixas o meu dia negro e sem luz se
fores embora sem me fazer uma festinha”. E eu tenho que ir! Mesmo sabendo que
irei ficar com um cheiro insuportável a cão! Aquele olhar de “preciso muito,
muito de mimo” deixa-me desarmada! E isso irrita-me!! Prefiro de longe os
gatos!
Os cães são uns arruaceiros. Uns
miúdos que correm por todo o lado, fazem barulho e exigem atenção constante! Já
os gatos são uns adultos bem comportados. A gata que tenho em casa é uma
perfeita lady! Convencidíssima que pertence à nobreza! Incomoda-se com barulho!
Incomoda-se com movimentação a mais! Vive num estado zen e detesta que lhe
alterem essa rotina! Sim, corre feita louca de um lado para o outro! Mas são os
5 minutos saudáveis da loucura! Depois volta ao comportamento de perfeita lady!
Provavelmente, no seguimento da sua corrida matinal, irá para a janela, fazer a
sua fotossíntese diária. Chega a ter um ar sábio, enquanto faz a sua
fotossíntese, de quem percebeu todos os
mistérios do mundo e agora dorme em paz pois não tem com que se preocupar. Será
por isso que os gatos olham para os humanos com um certo ar de condescendência?
Por terem alcançado uma verdade que a nós ainda nos escapa? É um facto que os
gatos cultivam um certo ar aristocrático, que olha para nós, humanos, como
seres inferiores.
Contudo, debaixo daquela capa sabemos que eles
gostam de nós. Sabemos que apreciam a nossa companhia, desde que respeitemos a
sua presença. E essa relação faz-nos sentir especiais. Eles não dependem de
nós, nem do nosso carinho. Passam a mensagem que passaram muito bem o dia (e de
facto passaram) sem nos ver. Dormiram, apreciaram o seu silêncio e a sua paz.
Quando chegamos, não fazem a festa louca do cão. Claro! São nobres! Mas vêm ter
contigo, roçar-se nas tuas pernas, acompanhar-te pela casa, demonstrando que
sentiram a tua falta, que gostam de te ver. Apesar de olhar para ti com aquele
ar insolente como quem diz “então, já chegaste?” , apesar de ser pouco efusivo
nas suas atitudes, percebemos que o felino sentiu a nossa falta e que o felino
gosta mesmo de nós. E sentimos que somos
seres especiais por termos conquistado o amor de um gato. Sentimos que somos
especiais quando eles nos escolhem como poltrona para dormir. E sentimos que somos especiais quando eles nos escolhem
para dormir junto a eles. Porque afinal, com os felinos, a escolha passa sempre
por eles. Não adianta fazer mimo se ele não quiser. Não adianta pegar ao colo,
se ele não quiser. Não adianta qualquer interação se ele não quiser. Na melhor
das hipóteses vai ignorar-te. Na pior das hipóteses vai mostrar as garras. Será
por isso, eventualmente, que muitos não gostam de gatos. O felino domina e não
se deixa dominar. Gosta de ti mas não é ultra-dependente de ti. Não vive para
te agradar. Oferece uma relação de reciprocidade. Escolhe amar-te e não tu a
ele. E, no fim de tudo, ele deixa-te a prova que gosta mesmo de ti, deixando-te
viver na casa que ele considera sua! J
#gatos; #cães
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