domingo, 12 de março de 2017

"Ensinas-me a olhar para ti sem querer beijar-te?"
Existe um muro na minha cidade que vê escrito em letras garrafais a seguinte frase: “Ensinas-me a olhar para ti sem querer beijar-te?” Não sei a quem a escreveu. A assinatura parece-me de um/ uma certo(a) JP sendo “o” (vou optar por achar que é um homem) JP o autor de mais algumas frases espalhadas pela Covilhã e arredores tais como “Liberdade? Quero a prisão dos teus braços” e “Faz as malas! Fugimos hoje!”. Claramente este JP será uma pessoa apaixonada levando-o essa paixão a expressar-se pelas ruas das cidades.
Gosto de todas essas frases (gosto de ler a “poesia” e os sentimentos espalhados por aí) mas assumo que a “Ensinas-me a olhar para ti sem querer beijar-te” é a minha preferida. Gosto e identifico-me. Há sempre alguém na nossa vida, digo eu, que nos faz sentir assim. Ou porque nunca pertenceu à nossa vida e gostaríamos que tivesse pertencido ou, pelo contrário, porque em determinado momento das nossas vidas essa pessoa fez parte mas não faz mais. Neste caso vou falar da segunda situação: pessoas que pertenceram, em determinado momento, ao nosso presente. Pessoas especiais que, ao terem passado pela nossa vida, criaram uma ligação que se tornou inquebrável. Existe, em alguns casos, encontros entre duas pessoas que criam uma energia (positiva, sem dúvida) que não desaparece nunca por mais que o tempo passe e por mais que não se alimente esses encontros e reencontros. Uma troca de olhares e o tempo fica em suspenso, deixando um raio de luz e energia passar. Quanto a mim isso tem uma explicação: são almas que se reconhecem e se tocam!Penso que são almas que pertenceram à vida um do outro em muitas outras vidas e, por isso, se reconhecem em qualquer tempo e lugar. São essas pessoas/ almas especiais que fazem que nos sintamos sempre acolhidos, aconchegados e em casa quando estamos com eles. São aquelas pessoas que nos fazem sentir que os ombros são largos o suficiente para acolher a nossa alma cansada e desgastada e assim possamos descansar nesse ombro largo. São aquelas pessoas que nos fazem pensar que nada no mundo é impossível. E, por fim, são aquelas pessoas que, quando vemos, queremos sempre abraçar e beijar, percebendo que, finalmente podemos abrandar o ritmo porque a nossa alma reencontrou o lugar que procurava. Podemos encontrar essa “alma gémea” num amigo, num amante, num irmão… A única coisa que é certa é esse bem-estar que ela nos transmite, essa paz e essa vontade de a abraçar.
Contudo, como o tempo e o lugar nem sempre são propícios às vontades e necessidades da nossa alma, por vezes, as almas andam desavindas por aí. A ligação, que seria natural, deixa de poder existir. Mas o elo de ligação está lá. E, quando se encontram, quando existe a troca de olhares, surge essa energia e essa vontade do beijo, do abraço, essa força que indica que as almas se reencontraram. E surge então a questão no fundo do olhar: “Ensinas-me a olhar para ti sem querer beijar-te?”. No fundo, e esperando um gesto nobre do outro perguntamos:  “ensinas a minha alma a viver sem a tua?”

É assim que interpreto essa frase escrita num muro da Covilhã. É isto que penso sempre que a leio. E assumo que sempre que passo os olhos por ela, um ligeiro sorriso nasce nos meus lábios gerado por um monte de recordações (desta e doutras vidas, quem sabe?) que afloram à minha memória. E, por momentos, a alma volta a sentir aquele sentimento quentinho e aconchegante que a faz sentir-se em casa.

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