quinta-feira, 28 de dezembro de 2017


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E depois de ter vivido quatro décadas, mais um ano e uns meses, posso afirmar que gosto de mim e gosto do que vejo ao espelho. Penso que é bastante comum a mulher mais jovem encontrar 1001 defeitos em si. Num momento em que tem uma pele perfeita, sem rugas e sem manchas, um corpo que apresenta poucos traços de celulite ou da idade, a mulher é capaz (e eu era capaz) de encontrar um sem número de imperfeições em si. Contudo, à medida que entramos na terceira década vamos perdendo, ou, pelo menos, eu fui perdendo esses “mimimis” de mulher mais nova e tornando-me, gradualmente, mais mulher. Quando cheguei aos 40 assumi-me como a mulher que sou, com as qualidades e defeitos que aceito sem complexos.
Já não tenho a pele de outrora…é um facto. Tenho manchas nela que não aceitei logo quando se instalaram. Contudo, percebi que fui adquirindo uma serenidade no rosto que suaviza aquelas que são as marcas do tempo. O olhar, esse, não envelheceu. Mantem-se vivo, com uma certa travessura e uma luz de desafio para com a vida. A voz foi ficando gradualmente mais rouca. Pareço um velho carroceiro mas quero acreditar que isso me acrescenta sensualidade! Aceitei, finalmente, que sou, como diz o meu pai, uma “pequena natureza” (um metro e meio de gente!). E por ter aceitado a minha altura sinto-me tão bonita e feminina num salto alto, como num ténis ou num chinelo. Sinto-me bem na minha pele porque faço exercício físico para assim lutar contra o passar do tempo que nos vai fazendo perceber o peso da gravidade…e sinto-me bem na minha pele porque exercito a minha mente: leio, escrevo, vou ao cinema, procuro maravilhar-me com a eterna novidade de tudo o que me rodeia.
Os defeitos que habitam em mim desde que sou gente continuam por cá como velhos companheiros. Continuo com péssimo acordar, continuo a parecer um camionista irado quando estou na estrada a conduzir, continuo a ser briguenta sempre que me surge pela frente uma causa pela qual me parece valer a pena brigar. Mas sei que essas brigas são feitas de forma mais contida. Percebi que não é necessariamente aquele que fala mais alto, aquele que terá mais razão. Aprendi a tirar o melhor partido de tudo o que me rodeia e aprendi que em todas as situações menos boas encontramos, ainda assim, algo de bom. Aprendi que o mundo não é perfeito mas que há muita coisa perfeita (uma paisagem alentejana, um dia de neve na Serra da Estrela, um por-de-sol na praia, o sorrido daqueles que amamos, são apenas alguns exemplos).
Aprendi, ao observar o mundo imperfeito, que eu não sou perfeita mas que possuo alguma perfeição: aproveito a vida a mãos cheias, procuro vivê-la a 100%, procuro ser feliz. E sei, porque também aprendi, que a felicidade é o que nos torna um pouco mais perfeitos, mais bonitos e atraentes.
Por tudo isto digo: gosto do mundo, da vida e gosto de mim! 

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