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E depois de ter vivido quatro
décadas, mais um ano e uns meses, posso afirmar que gosto de mim e gosto do que
vejo ao espelho. Penso que é bastante comum a mulher mais jovem encontrar 1001
defeitos em si. Num momento em que tem uma pele perfeita, sem rugas e sem
manchas, um corpo que apresenta poucos traços de celulite ou da idade, a mulher
é capaz (e eu era capaz) de encontrar um sem número de imperfeições em si.
Contudo, à medida que entramos na terceira década vamos perdendo, ou, pelo
menos, eu fui perdendo esses “mimimis” de
mulher mais nova e tornando-me, gradualmente, mais mulher. Quando cheguei aos
40 assumi-me como a mulher que sou, com as qualidades e defeitos que aceito sem
complexos.
Já não tenho a pele de outrora…é
um facto. Tenho manchas nela que não aceitei logo quando se instalaram.
Contudo, percebi que fui adquirindo uma serenidade no rosto que suaviza aquelas
que são as marcas do tempo. O olhar, esse, não envelheceu. Mantem-se vivo, com uma
certa travessura e uma luz de desafio para com a vida. A voz foi ficando
gradualmente mais rouca. Pareço um velho carroceiro mas quero acreditar que
isso me acrescenta sensualidade! Aceitei, finalmente, que sou, como diz o meu
pai, uma “pequena natureza” (um metro e meio de gente!). E por ter aceitado a
minha altura sinto-me tão bonita e feminina num salto alto, como num ténis ou
num chinelo. Sinto-me bem na minha pele porque faço exercício físico para assim
lutar contra o passar do tempo que nos vai fazendo perceber o peso da
gravidade…e sinto-me bem na minha pele porque exercito a minha mente: leio,
escrevo, vou ao cinema, procuro maravilhar-me com a eterna novidade de tudo o
que me rodeia.
Os defeitos que habitam em mim
desde que sou gente continuam por cá como velhos companheiros. Continuo com
péssimo acordar, continuo a parecer um camionista irado quando estou na estrada
a conduzir, continuo a ser briguenta sempre que me surge pela frente uma causa
pela qual me parece valer a pena brigar. Mas sei que essas brigas são feitas de
forma mais contida. Percebi que não é necessariamente aquele que fala mais alto,
aquele que terá mais razão. Aprendi a tirar o melhor partido de tudo o que me
rodeia e aprendi que em todas as situações menos boas encontramos, ainda assim,
algo de bom. Aprendi que o mundo não é perfeito mas que há muita coisa perfeita
(uma paisagem alentejana, um dia de neve na Serra da Estrela, um por-de-sol na
praia, o sorrido daqueles que amamos, são apenas alguns exemplos).
Aprendi, ao observar o mundo
imperfeito, que eu não sou perfeita mas que possuo alguma perfeição: aproveito
a vida a mãos cheias, procuro vivê-la a 100%, procuro ser feliz. E sei, porque
também aprendi, que a felicidade é o que nos torna um pouco mais perfeitos,
mais bonitos e atraentes.
Por tudo isto digo: gosto do
mundo, da vida e gosto de mim!
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