http://pet.publico.pt/2017/12/18/circos-sem-animais-sim/
Estamos em época
natalícia. E Natal é a época em que a alegria e os sentimentos bons devem
reinar (Pelo menos, é isso que nos vão dizendo desde os nossos mais tenros
anos). E, assumo que não sendo uma “incondicional” do Natal, procuro pôr em
prática esses sentimentos bons ao longo da época. Assim sendo, nesta época
tento ser mais solidária, praticar alguma boa ação e procuro de facto encontrar
motivos para estar mais alegre e feliz, acreditando que todos nós podemos ser mais
humanos.
E este ano não
foi difícil procurar uma situação que me deixasse mais feliz uma vez que os
meus olhos se cruzaram com a informação que muito me agradou: o PAN agendou
para ser debatido na Assembleia da República, no dia 21 deste mês, um
projeto-lei que prevê a proibição total da presença de animais no circo. E sim,
sou daquelas pessoas que aplaude de pé este debate e que espera que ele venha a
trazer o único resultado possível: a proibição de utilizar qualquer animal no
circo. E aplaudo de pé a data em que tal projeto irá passar. Natal é muitas
vezes ligado à ideia de circo. Tempo livre, férias, parece ser sempre um bom
programa levar as crianças ao circo. Que fique claro que nada tenho contra o
circo (apesar de não apreciar muito palhaços que me oferecem mais pesadelos que
gargalhadas). Tenho sim uma indignação e até alguma raiva, contra os circos que
continuam a usar animais para gáudio dos seres humanos – pequenos e graúdos –
que vão apreciar um leão ou tigre a saltar por aros de fogo, cavalos que
executam uma espécie de dança sobre duas patas e uma infinidade de atuações
grotescas de outros tantos animais. Do que pude ler e perceber, verifiquei que
ainda é permitido atuarem, como vedetas do circo, animais como tigres, leões,
hipopótamos, camelos, tubarões, zebras, serpentes, cães, cavalos, póneis,
burros e raposas. Não sei se os números continuam a ser aqueles que via em
criança – quando a própria escola me levava a ver esse infeliz espetáculo – mas
sei e tenho certeza que a violência física e psicológica a que são submetidos esses
animais se mantém.
É de esperar, como aconteceu em 2009, quando
foi proibida a aquisição e reprodução de certos animais, tais como primatas,
ursos, morsas, focas, entre outros, que se ergam as vozes da revolta. Aliás,
também já me fui cruzando com algumas. A que mais me chamou a atenção, por ser
quase infantil na defesa que faz é a de Dantas Rodrigues. Ora este senhor
vaticina a morte do circo, referindo logo no título do seu artigo que “Lá se
vai o circo” (Como se a arte circense a apoiasse apenas e só na apresentação de
uns quantos números de animais obrigados a realizar malabarismos medonhos).
Perturba-o que terminem com as suas memórias de infância do circo com animais.
Pelos vistos também aprecia observar aves cativas só porque, quando era um
“jovem crianço” colecionava cromos. Argumentos de “sempre foi assim” e de “esta
é a tradição” (tal como se defende nas touradas). Não existe argumento mais
pobre que esse. Há que reconhecer que se ouvíssemos sempre a tradição
provavelmente ainda estaríamos em tempos de escravatura e provavelmente
seríamos completamente a favor da pena de morte. Como dizia Einstein “a
tradição é a personalidade dos imbecis”.
Afirmo: Circos
com animais são inadmissíveis. O sofrimento que lhes é provocado, tanto física
como psicologicamente, não pode ser entendido como um mal necessário à
manutenção da tradição. Sim, ouço dizer que são bem tratados quando não estão
nos espetáculos. Que são bem alimentados, que vivem bem…em habitats, na maior
parte das vezes, completamente diferentes do seu. Mas são bem tratados… Obrigar
esses animais a viagens constantes, em jaulas exíguas, é tratá-los bem. Deve
ser pouco stressante para eles “passear” por esses caminhos portugueses. Forçar
os animais a executar movimentos, a agir de determinada maneira (andar em duas
patas, saltar por aros de fogo, executar supostas danças – como se via nos
elefantes) não poderá ser visto como algo de bom nem como algo belo, se de
estética quisermos falar. Esses comportamentos nada têm a ver com a vivência de
animais da mesma espécie quando se encontram em liberdade. São movimentos que
com frequência são desconfortáveis, assim como perigosos (um elefante apoiar
todo o seu peso em duas patas não poderá ser algo inócuo para ele…). Para além
de todas as questões físicas, há que pensar nas dores psicológicas – todo o
ambiente da apresentação num circo, as luzes, o barulho, a presença de muitas
pessoas, só poderão ser angustiantes, difíceis de suportar e stressantes. Mas
diz-se: “os animais são bem tratados nos circos portugueses”… E, por fim,
pensemos como conseguem os “treinadores” controlar o comportamento dos animais,
obrigá-los a realizar esses truques todos que oferecem ao público? Sabe-se que
é frequente o uso de chicotes, de focinheiras…já ouvi falar em bastões elétricos…
A verdade é que para obrigar um animal a executar aqueles movimentos grotescos
há que quebrar a sua força de vontade, há que dar a perceber quem é o mestre e
quem é a besta…tudo isso será, mais uma vez, tratar bem um animal?
A proposta do
PAN é que sejam proibidos todos os animais no circo e que os mesmos sejam
reencaminhados para reservas onde possam recuperar e preservar a sua
integridade. Mais uma vez reafirmo que concordo, também, com essa solução.
O vaticínio do
senhor Dantas de que o circo ficará mais pobre sem animais, que está anunciada
a sua morte, mais não é do que a incapacidade de perceber o que já ficou
provado pelo Cirque du Soleil e
alguns outros que abandonaram a presença dos animais no espetáculo: a arte
humana é suficiente para manter de boa saúde o maior espetáculo do mundo!
Por fim, e
porque as palavras já vão sendo excessivas, uma pequena nota: não basta
legislar sobre a presença de animais no circo. Há que relembrar a existência
das touradas, dos espetáculos de golfinhos e leões-marinhos ou de todo e qualquer
espetáculo público de exibição de animais para diversão do ser humano. Todos
eles deveriam ser, também, questionados…
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