Sim, continuo solteira!
“Sim, continuo solteira!” – esta
será uma das frases que mais utilizei ao longo dos anos. Nos encontros de
família, nos reencontros de amigos que não víamos há muito e até nas conversas
com pessoas que conheci há pouco tempo. Inevitavelmente, no decorrer destes
momentos sociais vinha a mesma pergunta mascarada de formas diferentes. Desde a
forma mais direta: “então, ainda não casaste?”, à forma mais discreta “então ainda
não arranjaste tempo para uma pessoa nessa tua vida ocupada?”, à forma mais
galante (e ligeiramente patética) “como é que uma miúda como tu continua
sozinha?” E é verdade, contra tudo e contra todos, continuo solteira. Porquê?
Vejamos…
Analisando a situação: A primeira ideia que ocorre na mente das
pessoas é que, se já és uma mulher feita (digamos, se passaste dos 30…e eu já
passei há mais de uma década) só podes interpretar na sociedade um de dois
papéis: ou és uma “tia solteirona” que não sai de casa, que vive a sua vida
através das histórias de amor a que assiste na televisão, que tem um gato com
quem conversa e que continua a sonhar com o amor da sua vida enquanto, noite
atrás de noite, fica em casa com o seu chá quente e com os pés frios. Ou então,
e se tiveres uma imagem, na tua forma de vestir e apresentar, que não se
coadune com essa teoria da “tia solteirona”, serás a segunda opção: a louca que
faz festa todos os dias, que não tem namorado porque não acredita no amor mas
acredita, e bem, nos prazeres físicos, que adora comer e ainda mais beber e por
isso tudo não é companhia aconselhável para as amigas casadas porque as poderá
enlouquecer com os seus hábitos poucos recomendáveis! Quando muito, poderá ser
companhia para as amigas divorciadas que, de algum modo, sofrem do mesmo
estigma.
E é com estes rótulos que tens
que viver apenas porque escolheste viver a tua vida de uma forma diferente
daquela que é socialmente aceite. Não lhes passa pela cabeça que podes não ser
nem uma coisa, nem outra. De facto, não sou a tia solteirona que fica em casa a
ver as novelas. Mas também não sou a louca pintada na segunda opção. Apenas sou
uma mulher que até ao momento decidiu não partilhar a sua vida com ninguém
porque não encontrou ninguém com quem quisesse ou lhe fosse possível partilhar
a sua vida. Serei assim tão diferente da maioria das pessoas? Ou apenas serei exigente
demais? Assumo que, como já escrevi noutra crónica, acredito que existe uma
alma gémea à nossa espera no mundo. Mas também referi que nem sempre a alma
gémea vem no corpo ou nas circunstâncias certas. E só me faz sentido partilhar
a minha vida com uma pessoa que eu considere que foi colocada no mundo para se
encontrar comigo, uma pessoa com quem partilhe uma energia especial, uma pessoa
que me faça pensar que serei mais feliz estando com ela do que estando sozinha,
uma pessoa que terá aparecido nas circunstâncias certas. No fundo, só me faz
sentido partilhar a minha vida com aquela que identificaria como a minha alma
gémea.
Não irei negar que pensei muito
sobre o facto de ver passar os anos e sobre o facto de não encontrar uma pessoa
com quem quisesse ou pudesse partilhar o meu mundo. Pensei sobre a questão
do casamento, do viver junto, da urgência que a sociedade impõe em resolver
essas questões a partir dos 25/ 30 anos. E, para falar verdade, passei, também,
a procurar conhecer-me e analisar-me, procurando compreender-me e perceber por
que raio não seguia o caminho socialmente aceite.
Foi aí que percebi que desde
pequenos nos vendem a ideia de que a felicidade só vem a dois, em casal e, de
preferência, com filhos. Compreendi que estamos habituados a viver no barulho e
na confusão. Compreendi que “ser sozinho” é, por isto, visto de modo negativo. Compreendi
que o silêncio assusta. Compreendi que criaram em nós a ideia de que precisamos
estar sempre acompanhados. Mais! Criaram em nós a ideia de que não somos
completos a não ser quando temos ao nosso lado um “mais que tudo”. Por isso,
quando segues um caminho diferente desse socialmente aceite, tens de ser
rotulada. Ou és uma perigosa amante das festas e dos prazeres mundanos ou és
uma triste tia relegada ao conforto do sofá. De qualquer maneira, não podes ser
feliz. Porque a fórmula da felicidade está no casamento e nos filhos.
Nada mais errado, digo eu. Com o
tempo percebi que só se encontra a paz e a harmonia, o silêncio, dentro de si
próprio. Percebi que não se pode ter medo de estar sozinho. Estar com outra
pessoa tem de ser uma escolha e não uma necessidade. Só assim poderemos ser uma
boa companhia para o outro. Só assim poderemos dar o tempo que for necessário
para encontrar a pessoa que se julga ser a certa…ou não a encontrar de todo e
ainda assim, ser feliz e completa.
Concluindo, só depois de
gostarmos da nossa própria companhia é que “outro alguém” poderá, também ele,
apreciá-la. Gosto da minha companhia. Gosto de estar no meu silêncio, como
gosto de do barulho por estar com amigos, em família, ou numa qualquer festa ou
celebração. Continuo a acreditar em almas gémeas. Continuo a acreditar no amor.
E sei que apenas deixarei de ser solteira porque encontrei alguém com quem
sinto vontade de partilhar os meus silêncios…e não porque a sociedade assim me
impôs…
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