sexta-feira, 8 de setembro de 2017

“Notas sobre um Quarteto e a Amizade”
“Sabem quem é que vocês as 3 me lembram?” A pergunta foi-nos colocada no decorrer de um agradável jantar e nós, por simpatia, ou porque esperávamos que qualquer uma das três respondesse, deixámos a pergunta a pairar um pouco no ar. Em seguida, uma das três respondeu, com um ligeiro tom de voz interrogativo:  “O Sexo e a Cidade?” O tom ligeiramente inquisitivo pretendia não dar a entender que tínhamos a certeza da resposta até porque já tínhamos ouvido muitas mais vezes esta comparação.
Ainda que nessa noite, e nessas férias, fôssemos apenas três, o grupo por inteiro, o denominado “Quarteto” é composto, como o próprio nome indica, por quatro elementos. E, efetivamente, não foi a primeira vez que essa comparação nos foi feita. Verdade seja dita até nós mesmas, os membros do “quarteto” nos reconhecemos nesta comparação. Não que nos identifiquemos completamente com as personagens. Penso que nenhuma de nós será tão extrovertida e sexualmente liberal como a divertida Samantha ou tão racional, chegando a ser meio cínica (sobretudo no que aos homens diz respeito) como a Miranda. Mas a verdade é que nos identificamos e reconhecemos em alguns momentos e características daquelas personagens e sobretudo, identificamo-nos na amizade sólida que une aquelas mulheres.
Tal como as personagens de “O Sexo e a Cidade” cultivamos uma amizade que já é bem longa. Três dos elementos conhecem-se desde a adolescência. Eu cheguei mais tarde, pela mão de um namorado da época, e apraz-me dizer que entre os despojos dessa relação já desaparecida ficou uma amizade que já conta mais de uma quinzena de anos. E, como se diz por aí, uma amizade que dure mais de 7 anos tem grandes probabilidades de se manter para toda a vida. Como tal, estou certa que este quarteto ainda fará por se reunir quando todas estiverem bem velhinhas, à volta de uma mesa para bebericar uma chávena de chá.
Tendo em conta os anos que já soma esta amizade, já passámos por vários estádios: solteiras, com pouco mais que amizades coloridas, com namorados, passou-se por vários casamentos e até por um divórcio. Em todas as situações os pretendentes foram altamente analisados. Afinal, só queremos o melhor para as amigas. Em todas as situações, mais cedo ou mais tarde, o grupo foi ouvido e inquirido sobre as situações que se apresentavam mais difíceis ou problemáticas. E esta é mais uma das características deste grupo de amigas. A reunião, semanal, mensal, ou sempre que possível (dependendo do ritmo de vida de cada uma) sempre existiu. Em frente a uma chávena de café, uma bebida preferida – que foi alterando ao longo dos tempos – desde o Favaios, ao gin, passando pelo mojito, ou um prato de comida num qualquer restaurante da moda ou que desejávamos conhecer, a conversa sempre aconteceu, relatando desde os acontecimentos mais pequenos, às tragédias maiores. É sobretudo nesta união que nos identificamos com a série “O Sexo e a Cidade”. Nesta aliança existente entre as quatro que permite que o problema de cada uma seja também um pouco o problema da outra assim como a felicidade de uma é parte da felicidade de outra. Sabemos por isso que podemos contar umas com as outras. Como diz Marguerite Yourcenar “Amizade é certeza”. E essa certeza mora em nós. É claro que não somos um grupo fechado e cada uma cultiva outras grandes amizades, pessoas que também fazem parte do nosso grupo de amigos, com as quais convivemos, rimos, divertimos e, por vezes, choramos. Isto é, outras amizades com quem partilhamos a nossa vida. Contudo, este quarteto tem história e por isso é diferente:
 Tem um passado construído de momentos hilariantes que levam à existência de uma enorme cumplicidade. Um passado construído por momentos que, se não fossem da vida real, seriam improváveis de acontecer (lembram-se daquela vez que entrámos atrasadíssimas no cinema? Aquela vez em que incomodámos uma fila inteira para sentar nas únicas 3 cadeiras que estavam livres naquela sala? Aquela vez que, afinal, estávamos enganadas na sala e voltámos a incomodar uma fila inteira para sair? Lembram-se qual era o filme? “O Sexo e a Cidade”, pois claro!) Que situação tão hilariante! O que gargalhamos! Penso que será essa característica que sempre nos definiu: uma extrema vontade de gargalhar e uma enorme cumplicidade.
Mantemos no presente um modo de estar que poderia definir, em bom português como: «se uma diz “mata”, a outra dirá “esfola” e uma terceira dirá “imediatamente”». E é essa cumplicidade que é maravilhosa. Temos um presente em que cada um dos elementos sabe que, por mais louca que a ideia seja, haverá sempre um membro que dirá “vamos lá”. A maior parte das vezes, todos os elementos estão de acordo quando se propõe uma brincadeira ligeiramente pintada de loucura: que seja fazer um vídeo a cantar com as nossas belas vozes no carro, que seja ir para a Serra gritar para afugentar o stress (apenas porque alguém se lembrou que é Dia do grito) debaixo de uma torrencial chuva ou que seja uma qualquer outra loucura que alguém se lembre no momento. Compreendemos que as coisas são mais divertidas quando realizadas em grupo (daí a nossa “fatiota” de Carnaval ser sempre pensada para as quatro) e que as coisas mais pesadas e difíceis também são mais leves quando partilhadas pelas quatro (daí os famosos jantares de “não colocadas”, por exemplo). Já passámos por muitos bons momentos e, claro, também por maus momentos. Em todos eles estivemos presentes e fomos um dos apoios da outra. E sempre que nos foi possível respondemos a tudo com uma gargalhada sonora porque percebemos que o queixume e a tristeza não nos levarão a lado nenhum.
Por isso, penso que não será descabido pensar que faremos parte do futuro umas das outras. Já existem filhos. Naturalmente, somos tias das crianças. Vimo-los nascer, vemo-los crescer e são tão do nosso sangue como se fossem mesmo do nosso sangue. Envelheceremos (esperemos) a fazer parte da vida umas das outras. Assumo que imagino que seremos umas “velhas gaiteiras” sempre prontas para um passeio, um baile e uma gargalhada!
Somos um quarteto. Quatro mulheres. Não somos iguais. Cada uma tem o seu feitio especial (especialíssimo, até!) Somos uma mistura de personalidades, com vidas, neste momento, bem diferentes. Cada uma seguiu um caminho que trilhou sozinha apesar de ter por perto a companhia das outras. Algumas vezes até chocamos. Contudo, no fim de tudo, há sempre lugar a uma boa gargalhada que coloca tudo no seu lugar. As raízes da amizade que existem em nós têm sido mais fortes que estes choques frontais e continuamos por essa vida fora, a gargalhar sempre que possível (mesmo que por vezes a gargalhada sirva apenas para abafar a tristeza e a lágrima) e a tentar tirar o melhor partido da vida e desta amizade. Compreendemos, como diz a letra da canção, que “juntos, somos mais fortes”.

Mais do que uma vez fomos comparadas às quatro de “O Sexo e a Cidade”. E, de facto, as semelhanças com as quatro de Nova-York existem.  Constato-as na união e amizade que existe entre as 4 da Covilhã, na força e resiliência que cada uma tem apresentado ao longo da sua vida e na capacidade de, no fim de tudo, dar uma enorme gargalhada em desafio à própria vida.

Sem comentários:

Enviar um comentário