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Pensamentos soltos sobre ódios e rancores
Já uma vez escrevi sobre as
palavras. Escrevi sobre aquelas palavras que nos beijam, por gostarmos delas e
sobre as que nos causam uma certa inquietação, por não as apreciarmos. Falei de
palavras de que gostava, apenas pelo som, e de palavras de que não gostava…pela
mesma razão. E ainda falei naquelas palavras que gostava e das que não
apreciava pela realidade que retratavam. A palavra “ódio” é um desses
vocábulos. Não gosto dela nem um bocadinho. Não pelo seu som…que não me inspira
nada de bom mas também nada de mau, mas pela realidade que ela transmite. O
ódio transmite-me uma realidade demasiado negra para ser minimamente apreciada.
Assumo que nunca senti nem gostaria de sentir tal “afeição” por ninguém (apesar
de todos os apesares, é um sentimento que nunca nutri por qualquer ser. Mas,
assumo que, por vezes, em determinados momentos, sinto correr um frio pela
coluna vertebral abaixo e penso que estou a ser contemplada, através de um
olhar frio, com esse sentimento feio e negro).
Associo o ódio a uma profunda
antipatia por algo ou alguém, um rancor profundo, uma raiva que ocupa um espaço
enorme dentro da pessoa que a sente. Um sentimento claramente negativo que se
alimenta de dores, ressentimentos, inseguranças e de todos os sentimentos menos
bons que habitam dentro de uma pessoa. Alimenta-se ainda, e essa é a maior
fatia, da falta de amor. Facilmente o ódio se instala onde falta o amor: seja o
amor por alguém, seja pelas pessoas ou pela vida, … E instala-se, sobretudo, naquelas
almas onde falta o amor-próprio. O local onde falta o sentimento mais
importante que um ser humano possa ter, o amor-próprio, é um terreno fértil
para que o ódio possa nascer e crescer de forma próspera. O alvo desse ódio
será aquele que nos parecer mais culpado do nosso mau estar, aqueles que
consideramos serem os culpados pela nossa própria dor, tenhamos ou não razões
para isso. E, ao alimentar-se de um modo tão voraz de tudo o que de menos bom
habita num corpo, vai aniquilando, destruindo a pessoa por dentro ao mesmo
tempo que destrói tudo aquilo em que a pessoa que sente tal ódio toca, ou tudo
o que está por perto.
O ódio será, quanto a mim, um dos piores
sentimentos que se possa conter dentro da nossa alma. É altamente perigoso. Perigoso,
sobretudo, porque até certo ponto, pode fazer-nos sentir saciados e aliviados.
Alimenta a alma quando esta se sente, por algum motivo, desassossegada por algo
que correu menos bem na sua vida. Alimenta a alma quando esta se sente vazia. Contudo,
ao mesmo tempo que a faz sentir, temporariamente, saciada, vai destruindo tudo
o que de bom possa ainda existir naquele corpo e alma. O alimento que este ódio
oferece mais não é do que umas ervas venenosas para a alma, e para a própria
pessoa, que a vão corroendo e destruindo. A sensação de saciedade é meramente
ilusória. E a necessidade de se alimentar é cada vez maior, aumentando o
negrume dos sentimentos que habitam coração e alma. Até ao momento em que, se
nada for feito contra, nada restará de bom nem de luminoso naquela pessoa.
Alimentar algo que nos faz tão
mal, e que provavelmente iremos perceber a seu tempo que não nos traz nada de
bom, só prova, como disse, a existência de uma enorme falta de amor-próprio e
alguma falta de inteligência emocional. O inteligente a nível emocional sofre
sim, com as situações menos agradáveis que a vida lhe traz. Sofre, chora, mas
segue em frente. Aprende a ignorar a pessoa e/ ou situação que lhe provocou dor
e sofrimento. Supera. Caminha noutra direção. Deixa de dar importância à
situação e/ ou pessoa. E essa é a maior prova que estamos perante uma pessoa
que se ama a si acima de tudo e que tem inteligência para se afastar do caminho
que é o da raiva – ódio – sofrimento.
Depois de todo este discurso, mal
seria dizer que já odiei!! E a verdade é que não poderia dizê-lo uma vez que
nunca odiei. Não sou uma pessoa de alimentar raivas e muito menos ódios. Não
sou perfeita! Longe disso. Tenho explosões de mau humor que fazem lembrar o Big
Bang. Lanço as minhas irritações maiores e menores, algum mal-estar, para todo
o lado, atingindo, naquele momento, os que estão mais próximos. Assumo. Mas,
também ouço várias vezes que tenho uma boa aura ou uma boa energia. E, talvez
seja por isso, a verdade é que nunca odiei. E sim, já passei por situações em
que o caminho mais simples seria esse do ódio. Mas, esse sentimento feio não
faz parte de mim (valha-nos ao menos isso!). Sofri, chorei e segui em frente.
Não quero com isto dizer que continue a gostar e a considerar as pessoas que me
fizeram sofrer. Nada disso. Afastei-as da minha vida, passando a ignorá-las.
Não sei se as perdoei. Sei que, para mim, deixaram de existir. E não se odeia
quem não existe. Não permiti e espero nunca vir a permitir que o ódio por ninguém
se instale na minha alma. Até porque, como disse Martin Luther King, Tenho visto demasiado ódio para querer
odiar.
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