segunda-feira, 24 de julho de 2017






“Beijos, abraços e french kisses”
Tenho por hábito analisar-me nos meus comportamentos e na minha forma de ser. Procuro parar e olhar um pouco para dentro tentando perceber esse turbilhão de “coisas” que sou eu. A verdade é que antes o fazia apenas com os outros. Observava criteriosamente, ouvia com atenção e tinha tendência para analisar a pessoa que tinha à minha frente assim como os seus comportamentos. Baseado nisso, criava a minha opinião – nem sempre favorável – e dificilmente mudava de opinião daí para a frente. Felizmente, a idade foi passando e penso que me terei tornado uma pessoa mais tolerante, analisando-me mais a mim do que aos outros e aceitando, com maior facilidade as suas qualidades e, sobretudo, os seus defeitos, até porque tinha uma noção mais clara dos meus próprios defeitos.
Foi num desses momentos de autoanálise que percebi o quão complexa posso ser e o quão difícil é, por vezes, entender-me. Reparem: toda a gente que me conhece minimamente diz que sou uma pessoa que não gosta de beijos. Dizem e têm razão. Não sou muito dada a beijos. Mas, por outro lado, sou uma beijoqueira nata. Eu sou a perfeita antítese. Passo a explicar: Não gosto de beijos de circunstância. Aborrecem-me de morte. Haverá necessidade de cumprimentar com dois beijos aqueles amigos que vemos todos os dias??? Pior! Eu conheço pessoas, e tenho amigos, que se cumprimentam quando se vêm e cumprimentam-se quando se vão embora! Mesmo que, entre uma coisa e outra tenha mediado pouco mais do que uma hora! Haverá necessidade disto??? E há gente bem pior (como se isso fosse possível!)! Eu tenho familiares que te cumprimentam não com dois mas com quatro (sim, leram bem!) quatro beijos!!! É tanto virar a cara, estalar os lábios, virar a cara, estalar os lábios que quase fico com tonturas depois de cumprimentar um primo! Imaginem quando vem o casal!!! 10 minutos são usados apenas para beijos!
Convenhamos!!! Beijo é uma coisa íntima! É uma coisa para ser dada a quem nos é muito próximo!! Existirá coisa pior que acabar de conhecer uma pessoa e cravar-lhe logo dois beijos na bochecha?? Não seria bem mais simpático, e bem menos pessoal (afinal, acabámos de conhecer a pessoa!) dar-lhe um passou-bem? Sinceramente, sentir-me-ia bem mais confortável nesse papel. Facto é que, entre homens e mulheres esse comportamento até é aceite. Conhece, estende a mão, dá um vigoroso passou-bem e por aí nos ficamos, sem maiores intimidades. Já entre senhoras, esse comportamento é pouco usual. Acabou de conhecer e lá vem o beijo! E que incomodativo que ele pode ser! Há senhoras que usam uma camada tão grande de base que quando as cumprimentamos quase ficamos coladas a elas! Resistimos à tentação de esfregar a cara como fazíamos em crianças quando o beijo era mais húmido e nos deixava a bochecha molhada (berk!) E no verão? Haverá algum gosto em cumprimentar um rosto todo transpirado? Mais uma vez aquela sensação de bochecha húmida tão horrenda! Dirão, e com razão, que há muita gente que transpira das mãos. E que dar um passou-bem a uma mão transpirada também não é muito agradável. E é verdade! Mas entre a mão molhada de transpiração e a bochecha…eu escolho a mão!!! 
A juntar a isto tudo, existe ainda a forma como se dá um beijo. Já que têm que cumprimentar com um beijo, façam-no de forma simpática e sentida! Detesto aquelas pessoas que apenas estendem a cara, em total silêncio. Beijo de cumprimento obriga a um estalar dos lábios. Aquelas pessoas que se limitam a dar a cara de um lado e outro fazem-me sentir esse hábito como ainda mais desinteressante e incomodativo!
Mas…e há sempre um más…toda esta teoria cai por terra quando gosto muito das pessoas. Aí sou uma beijoqueira nata! Adoro aqueles beijinhos leves espalhados pelo corpo da pessoa amada. Adoro um beijo a sério, o famoso “french kiss” (acho o nome lindo!) que usas para explicar ao outro o quanto ele é especial para ti, o quanto gostas dele. Adoro o beijo inesperado usado para recordar à nossa companhia  que estamos ali, ainda que estejamos ocupados  a ver um filme ou a ler… Adoro o ligeiro tocar de lábios apenas porque passaste pela pessoa que amas. E aí, assumo, que nunca pensei “que horror, esta cara transpirada!”. Para quem gosto e amo não poupo nos beijos. Espalho-os, quais borboletas, leves mas cheios de sentido. Talvez seja por isso que não gosto tanto de dar beijos como um hábito social que nos incutiram. Esses beijos são, no geral, insípidos, são apenas e só um gesto formal, que nos obriga a uma intimidade que, a mim, não me apetece ter.
O beijo deveria estar na mesma categoria do abraço! Desses sim, eu gosto muito. E uso e abuso deles. Mas…com as pessoas que merecem os meus abraços: os amigos a sério; a família de quem gosto muito; a pessoa amada, claro. Um abraço tem sempre uma carga grande de sentimentos. Os nossos braços envolvem a pessoa, numa comunhão de corações e almas, embalando sentimentos. Quem não aprecia aquela sensação de abraço apertado, tão apertado que quase sentimos uma costela a deslocar? As boas energias fluem entre os dois corpos abraçados. É um momento de total entrega. Haverá algo de mais bonito? Definitivamente, sou pelo abraço!
Por norma, abraçamos aqueles que nos são muito próximos e muito queridos. Porque não fazemos o mesmo com o beijo? O beijo dado socialmente, em forma de cumprimento, não representa nada. É frio. É apenas isso: uma forma de cumprimentar. Por mim, passava bem sem ele. E elevava o beijo à categoria do abraço. Lindo mas reservado a alguns poucos… 



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