“Beijos, abraços e
french kisses”
Tenho por hábito analisar-me nos
meus comportamentos e na minha forma de ser. Procuro parar e olhar um pouco
para dentro tentando perceber esse turbilhão de “coisas” que sou eu. A verdade
é que antes o fazia apenas com os outros. Observava criteriosamente, ouvia com
atenção e tinha tendência para analisar a pessoa que tinha à minha frente assim
como os seus comportamentos. Baseado nisso, criava a minha opinião – nem sempre
favorável – e dificilmente mudava de opinião daí para a frente. Felizmente, a
idade foi passando e penso que me terei tornado uma pessoa mais tolerante,
analisando-me mais a mim do que aos outros e aceitando, com maior facilidade as
suas qualidades e, sobretudo, os seus defeitos, até porque tinha uma noção mais
clara dos meus próprios defeitos.
Foi num desses momentos de
autoanálise que percebi o quão complexa posso ser e o quão difícil é, por
vezes, entender-me. Reparem: toda a gente que me conhece minimamente diz que
sou uma pessoa que não gosta de beijos. Dizem e têm razão. Não sou muito dada a
beijos. Mas, por outro lado, sou uma beijoqueira nata. Eu sou a perfeita antítese.
Passo a explicar: Não gosto de beijos de circunstância. Aborrecem-me de morte.
Haverá necessidade de cumprimentar com dois beijos aqueles amigos que vemos
todos os dias??? Pior! Eu conheço pessoas, e tenho amigos, que se cumprimentam
quando se vêm e cumprimentam-se quando se vão embora! Mesmo que, entre uma
coisa e outra tenha mediado pouco mais do que uma hora! Haverá necessidade
disto??? E há gente bem pior (como se isso fosse possível!)! Eu tenho
familiares que te cumprimentam não com dois mas com quatro (sim, leram bem!)
quatro beijos!!! É tanto virar a cara, estalar os lábios, virar a cara, estalar
os lábios que quase fico com tonturas depois de cumprimentar um primo! Imaginem
quando vem o casal!!! 10 minutos são usados apenas para beijos!
Convenhamos!!! Beijo é uma coisa
íntima! É uma coisa para ser dada a quem nos é muito próximo!! Existirá coisa
pior que acabar de conhecer uma pessoa e cravar-lhe logo dois beijos na
bochecha?? Não seria bem mais simpático, e bem menos pessoal (afinal, acabámos
de conhecer a pessoa!) dar-lhe um passou-bem? Sinceramente, sentir-me-ia bem
mais confortável nesse papel. Facto é que, entre homens e mulheres esse
comportamento até é aceite. Conhece, estende a mão, dá um vigoroso passou-bem e
por aí nos ficamos, sem maiores intimidades. Já entre senhoras, esse
comportamento é pouco usual. Acabou de conhecer e lá vem o beijo! E que
incomodativo que ele pode ser! Há senhoras que usam uma camada tão grande de
base que quando as cumprimentamos quase ficamos coladas a elas! Resistimos à
tentação de esfregar a cara como fazíamos em crianças quando o beijo era mais
húmido e nos deixava a bochecha molhada (berk!) E no verão? Haverá algum gosto
em cumprimentar um rosto todo transpirado? Mais uma vez aquela sensação de
bochecha húmida tão horrenda! Dirão, e com razão, que há muita gente que
transpira das mãos. E que dar um passou-bem a uma mão transpirada também não é
muito agradável. E é verdade! Mas entre a mão molhada de transpiração e a
bochecha…eu escolho a mão!!!
A juntar a isto tudo, existe
ainda a forma como se dá um beijo. Já que têm que cumprimentar com um beijo,
façam-no de forma simpática e sentida! Detesto aquelas pessoas que apenas
estendem a cara, em total silêncio. Beijo de cumprimento obriga a um estalar
dos lábios. Aquelas pessoas que se limitam a dar a cara de um lado e outro
fazem-me sentir esse hábito como ainda mais desinteressante e incomodativo!
Mas…e há sempre um más…toda esta teoria cai por terra quando
gosto muito das pessoas. Aí sou uma beijoqueira nata! Adoro aqueles beijinhos
leves espalhados pelo corpo da pessoa amada. Adoro um beijo a sério, o famoso
“french kiss” (acho o nome lindo!) que usas para explicar ao outro o quanto ele
é especial para ti, o quanto gostas dele. Adoro o beijo inesperado usado para
recordar à nossa companhia que estamos
ali, ainda que estejamos ocupados a ver
um filme ou a ler… Adoro o ligeiro tocar de lábios apenas porque passaste pela
pessoa que amas. E aí, assumo, que nunca pensei “que horror, esta cara
transpirada!”. Para quem gosto e amo não poupo nos beijos. Espalho-os, quais
borboletas, leves mas cheios de sentido. Talvez seja por isso que não gosto
tanto de dar beijos como um hábito social que nos incutiram. Esses beijos são,
no geral, insípidos, são apenas e só um gesto formal, que nos obriga a uma
intimidade que, a mim, não me apetece ter.
O beijo deveria estar na mesma categoria do abraço! Desses
sim, eu gosto muito. E uso e abuso deles. Mas…com as pessoas que merecem os
meus abraços: os amigos a sério; a família de quem gosto muito; a pessoa amada,
claro. Um abraço tem sempre uma carga grande de sentimentos. Os nossos braços
envolvem a pessoa, numa comunhão de corações e almas, embalando sentimentos.
Quem não aprecia aquela sensação de abraço apertado, tão apertado que quase
sentimos uma costela a deslocar? As boas energias fluem entre os dois corpos
abraçados. É um momento de total entrega. Haverá algo de mais bonito?
Definitivamente, sou pelo abraço!
Por norma, abraçamos aqueles que nos são muito próximos e
muito queridos. Porque não fazemos o mesmo com o beijo? O beijo dado
socialmente, em forma de cumprimento, não representa nada. É frio. É apenas
isso: uma forma de cumprimentar. Por mim, passava bem sem ele. E elevava o
beijo à categoria do abraço. Lindo mas reservado a alguns poucos…
Sem comentários:
Enviar um comentário