Texto publicado na revista "Capazes"
Porque faço (24 de junho) hoje 40 mais 1 entrei num daqueles meus momentos de autoanálise. E dei por mim a pensar: “caramba, que esta ideia de que as mulheres se sentem mulheres de bem com a vida aos 40, é mesmo verdade!” Tenho dito várias vezes: falta-me muito pouco para ser feliz. Um “nadinha de nada” e seria totalmente feliz! E não estou a mentir. Sinto-me como nunca me senti! Tenho dito várias vezes, ultimamente, “sinto-me bem! Sinto-me em paz!”
Porque faço (24 de junho) hoje 40 mais 1 entrei num daqueles meus momentos de autoanálise. E dei por mim a pensar: “caramba, que esta ideia de que as mulheres se sentem mulheres de bem com a vida aos 40, é mesmo verdade!” Tenho dito várias vezes: falta-me muito pouco para ser feliz. Um “nadinha de nada” e seria totalmente feliz! E não estou a mentir. Sinto-me como nunca me senti! Tenho dito várias vezes, ultimamente, “sinto-me bem! Sinto-me em paz!”
Sempre ouvi
que os melhores anos de uma mulher eram os 30. Que era nessa altura que ela
atingia a maturidade, atingia grande parte dos seus objetivos, deixava para
trás a jovem insegura e apresentava à sociedade uma mulher sábia, calma,
estável a todos os níveis, apresentando-se como um porto de abrigo para muitos.
Ora, a minha entrada nos 30 foi do mais conturbada. Depois de ter alcançado
alguma estabilidade a nível profissional e amoroso (os saudosos anos de
Coimbra!), tudo se desmoronou nessa entrada nos 30. Como tal, a senhora que eu
achava que deveria ser nessa década não existiu. Muito pelo contrário. Os 30
deram lugar, novamente, a uma “jovem” com vontade de viver a vida e aproveitar
tudo o que o mundo lhe poderia dar. Não me queixo até porque não deixaria de
viver nem um segundo. Nem os anos de Coimbra, que terminaram de um modo menos
simpático, nem os anos que se seguiram. Contudo, à conta desta situação, acabei
por fugir ao padrão e não me tornar na “senhora” que pretendia ser quando tinha
18 anos. Com 18 anos perspetivava-me, aos 30, com uma família, uma casa, um
carro e um cão. Um sonho um pouquinho pequeno-burguês, é um facto. Como disse,
a vida arrastou-me para longe desses sonhos tornando-me uma senhora de 30 com
características bem longe desse cliché. Não poderei dizer que era a tal senhora
de 30 segura de si, calma e com estabilidade. Pelo contrário. As situações
pelas quais passei no início dessa década tornaram-me até um nadinha insegura e
um pouco zangada com o mundo.
E eis que
passam dez anos e entro na década dos 40. Relembro que, quando era criança
considerava ter 40 anos como estar à beira da velhice. Muitas vezes ouvia falar
o meu pai sobre alguém que tinha falecido com 40 ou 50 anos e ele dizia:
“Coitado, morreu tão novo!”. E não ironizo quando digo que na altura pensava
“Como, novo?!” Para os brasileiros essa é a “idade da loba”, idade em que se
atinge a maturidade e nos tornamos donas do nosso nariz.
O facto é
que estou a fazer 41 anos e finalmente sinto-me muito bem na minha pele. Por
fim sinto que não precisava de muito mais para ser feliz. Assim, num ápice,
penso em duas “coisitas”. Vou fazer 41, já não tenho a pele fabulosa que tinha,
manchas e rugas fazem parte do meu rosto e aceito-as. Aliás, finalmente,
aceito-me como sou. Sim, tenho uns quilos a mais. Sim, tenho alguma celulite.
Mas tenho a dizer em minha defesa que pratico algum ginásio: orgulhosamente
faço aulas de Pump e Jump! Logo, o que temos é o que dá para ter!
Portanto…gosto de mim!
Para além do lado físico, encontrei forma de
equilibrar o meu espírito. Faço coisas que me agradam. É um facto que saio
menos à noite. Mas ocupo mais o meu tempo a alimentar a alma. Como sempre,
leio. Sempre gostei, sempre me fez bem. Encontrei, também, uma forma de me
encontrar, de me analisar e que me dá paz: escrever. Vejo séries de qualidade. Sinto
que faço do meu tempo um tempo de qualidade. No fundo, aprendi a gostar da
minha própria companhia. Por isso, quando procuro a companhia de alguém é
porque quero e não porque necessito. E acho que isso torna qualquer pessoa bem
mais interessante. Ter chegado aos 40 anos (mais um) também me mostrou “quem
sim e quem não”. Passei a fase de achar que tenho de gostar da família só
porque é família. Gosto daquela família que, mais que os laços de sangue,
estreitou os laços da amizade e do companheirismo. O mesmo aconteceu com os
amigos. Neste momento sei quais são aqueles com que conto. Sei quem são os
verdadeiros. Tenho certeza que os que hoje são intitulados de amigos o serão
daqui 20 anos. Não quero com isto dizer que o meu grupo de amigos está fechado.
Muito pelo contrário. Continuo a conhecer muita gente e a fazer amigos a sério
(essa será uma das partes boas da vida cigana que tenho vivido). Por outro
lado, os meus 40 mais um (penso que muito ajudados por esta vida que me tem
obrigado a mudar de cidade uma vez por ano, quando não mais vezes) tornaram-me
uma pessoa mais autêntica. Conhecer tantas vezes cidades diferentes e novos
colegas retiraram qualquer comportamento de “bem parecer” que poderia existir
em mim. Não faço fretes. Sou o que sou. Ou gostam…ou seguem caminho.
Simplesmente não tenho mais paciência para aguentar o que não gosto, o que me
incomoda, ou, pior, o que me diminui. Passei a viver mais para mim e isso tornou-me
mais disponível para os outros. Embora pareça um contrassenso, a verdade é que,
ao fazer e viver como quero fiquei mais disponível para ouvir os outros. O
lugar ocupado por ressentimentos de falta de tempo e preocupações banais com as
pessoas e as suas situações passou a ser ocupado por coisas que me fazem
feliz…deste modo, abriu-se espaço para sentimentos bons para com o outro.
Assumo que também libertei o espaço das preocupações com o que poderia
acontecer no futuro. O que vier, virá por bem…preocupar-me antes não me servia
de nada e apenas me deixava ansiosa. Logo, menos preocupações, menos ansiedade,
mais bem- estar. Essa terá sido uma das melhores coisas que os 40 anos me trouxeram:
a capacidade de relativizar. E por isso relativizo o não ter atingido as metas
que tracei quando tinha 18 anos. Percebi que não preciso de metade das coisas
que pensava que precisaria para ser feliz. Aliás, percebi que preciso de muito
pouco para o ser.
Fazendo um balanço verifico que: 1. pouco ou
nada possuo de meu. 2. Não tenho enormes expetativas em relação ao futuro. 3. Aguardo
o que o dia-a-dia me traz. 4. Não sei como será o dia de amanhã e não me
preocupo muito com isso. Sou feliz. 5.Mantenho alguns sonhos (aquela parte que
me falta para ser mesmo, mesmo feliz). E isso basta-me. Como diria Pessoa, na
voz de Álvaro de Campos “Não sou nada/
Nunca serei nada/ Não posso querer ser nada./À parte isso, tenho em mim todos
os sonhos do mundo”. É isso!...E hoje
faço 40+1 …Parabéns a mim!
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