A minha vida (sobretudo a
profissional) tem-me obrigado a mudar imensas vezes de casa, qual caracol com a
casa às costas, vivendo por períodos, mais ou menos longos, em várias cidades
(ou até vilas) do país. Assim, num rápido, relembro que já vivi em Coimbra onde
estudei, trabalhei e vivi alguns dos melhores tempos e mais marcantes da minha
vida. Trabalhei, ainda, na Figueira da Foz, em Aguiar da Beira, em Coja (perto
de Arganil), em Estremoz, no Entroncamento, em Campo Maior, em Albufeira,
Santarém, Tomar, Portalegre e, ultimamente, em Avis (e penso que estarei a
esquecer alguma escola e alguma cidade). Sim, isto poderia ser visto por um
prisma negativo mas isso não faz parte da minha forma de ser. A verdade é que, passado
um período de adaptação – que cada vez mais é menor com o decorrer dos anos – passo
a sentir aqueles locais como um pouco meus. Por isso costumo dizer que sempre
que acaba um ano letivo e volto para casa, um pouquinho do meu coração ficou
nos locais onde vivi, nos locais que visitei e com as pessoas que conheci. Por
isso deverei considerar-me uma sortuda por ter um coração tão grande!
Contudo, há uma dessas zonas que
tem um cantinho cada vez maior no meu coração. A razão mais óbvia será porque
já vivi em várias cidades dessa região. Efetivamente, a primeira vez que
trabalhei no Alentejo foi em Estremoz (por uns 4 anos), tendo voltado mais
tarde para trabalhar em Campo Maior, uns anos depois, em Portalegre e,
atualmente, Avis. Mas, sinto-me tentada a dizer que não será isso. Existe uma
ligação entre mim e o Alentejo que não será fácil de entender mas que se sente.
Apesar de concorrer a boa parte do país, a verdade é que a sorte tem-me trazido
mais vezes para esta zona. E a verdade é que fico feliz quando isso acontece.
Se acreditasse em outras vidas diria, com toda a certeza, que em outra vida
terei sido alentejana. Identifico-me com as pessoas. Algumas das minhas grandes
amizades foram feitas aí. E não tenho dúvidas que irão perdurar. Adoro a sua
gastronomia: as migas, as açordas, as sopas de tomate, as sopas de cação… tudo
é maravilhoso! A paisagem é para lá de fabulosa quando a primavera aparece.
Muitas vezes essa paisagem obriga-nos a parar o carro ou a abrandar o passo
para a apreciar com todo o tempo que ela nos merece. Não é uma paisagem que se
limita a ser bela na primavera. No verão continua a ser maravilhosa. Aquelas
planícies a perder de vista tingidas em vários tons de amarelo são fantásticas.
O Alentejo é lindo e sinto-me cada vez mais em casa quando por lá estou. Se
tivesse que escolher um outro local que não a minha Covilhã para viver, sem
dúvida que essa zona seria a escolhida.
Mas…e há sempre um más…nada
supera a minha cidade. Aquele sentimento que se tem, quando se acaba de
atravessar os túneis da Gardunha e a paisagem que nos surge pela frente é a da
minha cidade neve, é inexplicável. Penso que não serei a única a ter aquele
sentimento aconchegante, quentinho, quando se sai do túnel, que é o de sentir
que a viagem está a terminar e que se está em casa. É verdade que ainda falta
uma vintena de quilómetros para chegar mas é naquela saída, com a visão lá no
alto da minha cidade luz que sentimos que chegamos a casa. E é nesse momento
que percebo que, por melhor que me sinta no Alentejo, por mais que sinta que
existe uma ligação, no mínimo estranha, com aquela região (pontuada imensas
vezes por sensações de “déjà-vu” )a minha casa, o local onde melhor me sinto,
nunca deixará de ser aqui o meu cantinho da Covilhã. Sempre que aqui chego
compreendo que preciso da minha Cidade Luz (sim, a cidade luz é Paris mas para
mim a Covilhã é “A minha cidade luz!”) para respirar fundo, a plenos pulmões,
largar todas aquelas coisas que se foram acumulando nos ombros e no peito e
recuperar forças. Não nasci aqui. Nem os meus pais nasceram cá, estando as suas
raízes ligadas a aldeias perto de Castelo Branco. Portanto, não posso dizer que
as minhas raízes sejam covilhanenses. Contudo, vivo cá há muitos anos. E
portanto, considero-me covilhanense de alma e coração. Adoro a cidade em si. A
paisagem é completamente diferente da paisagem alentejana mas é igualmente
maravilhosa e…avassaladora! Muita da minha história está gravada nas ruas da
Covilhã e por isso tenho um sentimento de pertença. Enche-me de orgulho ouvir
alguém falar bem da minha cidade, ouvir dizer que a visitou e que gostou desta
ou daquela paisagem, desta ou daquela pintura de rua, que gostou do Pelourinho
e que apreciou as nossas bolachas de cerveja.
Se tivesse que escolher um outro
local para viver, não tenho dúvidas que esse local estaria situado depois da
passagem da Barragem do Fratel. Aí se iniciam as terras de “além Tejo” e é
verdade que sinto uma estranha ligação a essas terras. Nutro uma simpatia pelo
Alentejo única. Gosto das suas terras e das suas gentes. Mas, a verdade é que
só na minha cidade neve é que me sinto completa. Apenas na minha cidade luz
sinto que posso sentar e descansar…e apreciar o dia a terminar. É aqui que alma
e coração encontram a sua paz.
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