Lá fora chove…
E hoje, talvez porque lá fora se
ouça o som da chuva, porque as noites começam a ficar mais frias e já se
necessita de mantinha ou apenas porque sim… a verdade é que hoje se apoderou de
mim um sentimento de nostalgia, uma quase tristeza que me deixa de lágrima no
olho sem ter nenhuma razão em particular…O aperto no peito, o coração
acelerado, a respiração alterada já vão sendo habituais em fins de dia…vá-se lá
saber porquê... O stress acumulado ao longo dos dias, as preocupações de que
não te consegues desligar, aqueles “probleminhas” que, por não estarem
resolvidos, te vão moendo…ainda que nada possas fazer para lhes dar um fim,
poderão ser razões para este mal-estar. Mas hoje, a somar-se ao aperto do
peito, existe uma espécie de tristeza doce, sem explicação que leva a este
estado de melancolia que exige chá, reflexão, escrita e/ou leitura. É nesses
dias e nesses momentos que paro para pensar na vida que levo, na vida que
queria levar, no que deu certo e no que deu menos certo.
E sim, sempre que este estado de
melancolia se instala, sempre que paro para pensar na vida, penso, também em
ti. Embora lute contra, a verdade é que a memória de ti vem à tona. Deverias
estar ultrapassado há muito. Deverias ser uma recordação doce e amena. Mas não
és. O ter aceitado isso foi das melhores opções que poderia ter tomado na minha
vida: aceitar que esquecer-te é quase impossível e que, como tal, terei de
conviver com a ideia do que podia ser e não é. Por isso o problema não é tanto
o continuar a pensar em ti. Nem é tanto a noção que, apesar da distância que
nos impusemos, continuamos a sentir falta um do outro, continuam os corpos a
estremecer quando um vislumbra o outro, continuamos a sorrir com os olhos
quando nos encontramos. Não é tanto a noção que nunca nos sentiremos totalmente
completos nem totalmente felizes um sem o outro. Com esses pensamentos e essas
certezas eu já aprendi a viver. O problema está nos dias em que os meus olhos
se abrem para a realidade e percebem que ainda que tudo isso exista e persista,
estamos destinados a não ser.
Sou aquela pessoa positiva, que acredita
sempre que o melhor está para vir e que os sonhos se concretizam, mais cedo ou
mais tarde. Não quer isto dizer que seja totalmente irracional. Sonho e
continuo a sonhar porque sei que alguns sonhos precisam de muito pouco para se
realizarem. E por isso, como diz a canção, “vou tocando em frente” à espera de
melhores dias, à espera da realização dos sonhos, à espera de felizes
reencontros, à espera que, finalmente, se cumpra o futuro adiado. E assim se
vai vivendo, sem grandes sofrimentos, com alguma serenidade adquirida a pulso.
Contudo…há dias em que a realidade se abate sobre mim, em que a serenidade
desaparece, em que sinto que nada disto faz sentido, em que sinto que existe um
lugar vago nesta sala e debaixo desta manta que devia estar ocupado mas que,
provavelmente nunca estará. É nesses dias que encaras a realidade de frente,
sem máscaras, sem filtros, e percebes que ainda que sintas que ali tão perto
está a tua alma gémea, ela não está no corpo e nas circunstâncias adequadas
para que te possa acompanhar nesta vida. É, como se diz no português comum, o
momento “em que te cai a ficha”, o momento em que percebes claramente que por
mais que continue a haver um sentimento grande, uma atração enorme e uma imensa
certeza que podia (e devia) ter dado certo, esta não será uma história com
reinício, não será uma estória para ser vivida… E é neste momento que se abate
sobre ti uma certa tristeza, não uma nostalgia do que já foi, mas a tristura e
a angústia de ver esfumar os teus sonhos em nada, na certeza do que nunca será.
Lá fora continua a chover. É uma
daquelas noites que podem trazer a serenidade ou a melancolia. Hoje instalou-se
a melancolia porque há dias em que a esperança se torna pequenina, um pequeno
grão de pó que não pode suster qualquer sonho por mínimo que seja. São os dias
da racionalidade. Dias que fazem passar um pano frio sobre os pequenos sonhos que
se vão acalentando. Dias (ou noites, neste caso) que fazem desaparecer as
pequenas esperanças que têm sobrevivido ao longo deste tempo tão longo. Sinto um
vazio…provavelmente criado pelo desaparecimento dos sonhos….um vazio que
necessita de ser preenchido. Como? Escrever, ler…ocupar o espírito. Recordar,
como se de um mantra se tratasse, que Amanhã
é outro dia tal como dizia a tua heroína de E Tudo o Vento Levou, Scarlett O’Hara.
Sabes, como já aconteceu tanta
vez, que irás dormir, esperando que a noite te traga um dormir sem sonhos. Mas
sabes, também, que amanhã acordarás de alma renovada, com o sol a brilhar na
janela, e o renascimento dos sonhos de sempre levará pouco mais de uma manhã
para se voltar a dar…
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