quarta-feira, 15 de novembro de 2017


Lá fora chove…
E hoje, talvez porque lá fora se ouça o som da chuva, porque as noites começam a ficar mais frias e já se necessita de mantinha ou apenas porque sim… a verdade é que hoje se apoderou de mim um sentimento de nostalgia, uma quase tristeza que me deixa de lágrima no olho sem ter nenhuma razão em particular…O aperto no peito, o coração acelerado, a respiração alterada já vão sendo habituais em fins de dia…vá-se lá saber porquê... O stress acumulado ao longo dos dias, as preocupações de que não te consegues desligar, aqueles “probleminhas” que, por não estarem resolvidos, te vão moendo…ainda que nada possas fazer para lhes dar um fim, poderão ser razões para este mal-estar. Mas hoje, a somar-se ao aperto do peito, existe uma espécie de tristeza doce, sem explicação que leva a este estado de melancolia que exige chá, reflexão, escrita e/ou leitura. É nesses dias e nesses momentos que paro para pensar na vida que levo, na vida que queria levar, no que deu certo e no que deu menos certo.
E sim, sempre que este estado de melancolia se instala, sempre que paro para pensar na vida, penso, também em ti. Embora lute contra, a verdade é que a memória de ti vem à tona. Deverias estar ultrapassado há muito. Deverias ser uma recordação doce e amena. Mas não és. O ter aceitado isso foi das melhores opções que poderia ter tomado na minha vida: aceitar que esquecer-te é quase impossível e que, como tal, terei de conviver com a ideia do que podia ser e não é. Por isso o problema não é tanto o continuar a pensar em ti. Nem é tanto a noção que, apesar da distância que nos impusemos, continuamos a sentir falta um do outro, continuam os corpos a estremecer quando um vislumbra o outro, continuamos a sorrir com os olhos quando nos encontramos. Não é tanto a noção que nunca nos sentiremos totalmente completos nem totalmente felizes um sem o outro. Com esses pensamentos e essas certezas eu já aprendi a viver. O problema está nos dias em que os meus olhos se abrem para a realidade e percebem que ainda que tudo isso exista e persista, estamos destinados a não ser.
 Sou aquela pessoa positiva, que acredita sempre que o melhor está para vir e que os sonhos se concretizam, mais cedo ou mais tarde. Não quer isto dizer que seja totalmente irracional. Sonho e continuo a sonhar porque sei que alguns sonhos precisam de muito pouco para se realizarem. E por isso, como diz a canção, “vou tocando em frente” à espera de melhores dias, à espera da realização dos sonhos, à espera de felizes reencontros, à espera que, finalmente, se cumpra o futuro adiado. E assim se vai vivendo, sem grandes sofrimentos, com alguma serenidade adquirida a pulso. Contudo…há dias em que a realidade se abate sobre mim, em que a serenidade desaparece, em que sinto que nada disto faz sentido, em que sinto que existe um lugar vago nesta sala e debaixo desta manta que devia estar ocupado mas que, provavelmente nunca estará. É nesses dias que encaras a realidade de frente, sem máscaras, sem filtros, e percebes que ainda que sintas que ali tão perto está a tua alma gémea, ela não está no corpo e nas circunstâncias adequadas para que te possa acompanhar nesta vida. É, como se diz no português comum, o momento “em que te cai a ficha”, o momento em que percebes claramente que por mais que continue a haver um sentimento grande, uma atração enorme e uma imensa certeza que podia (e devia) ter dado certo, esta não será uma história com reinício, não será uma estória para ser vivida… E é neste momento que se abate sobre ti uma certa tristeza, não uma nostalgia do que já foi, mas a tristura e a angústia de ver esfumar os teus sonhos em nada, na certeza do que nunca será.
Lá fora continua a chover. É uma daquelas noites que podem trazer a serenidade ou a melancolia. Hoje instalou-se a melancolia porque há dias em que a esperança se torna pequenina, um pequeno grão de pó que não pode suster qualquer sonho por mínimo que seja. São os dias da racionalidade. Dias que fazem passar um pano frio sobre os pequenos sonhos que se vão acalentando. Dias (ou noites, neste caso) que fazem desaparecer as pequenas esperanças que têm sobrevivido ao longo deste tempo tão longo. Sinto um vazio…provavelmente criado pelo desaparecimento dos sonhos….um vazio que necessita de ser preenchido. Como? Escrever, ler…ocupar o espírito. Recordar, como se de um mantra se tratasse, que Amanhã é outro dia tal como dizia a tua heroína de E Tudo o Vento Levou, Scarlett O’Hara.

Sabes, como já aconteceu tanta vez, que irás dormir, esperando que a noite te traga um dormir sem sonhos. Mas sabes, também, que amanhã acordarás de alma renovada, com o sol a brilhar na janela, e o renascimento dos sonhos de sempre levará pouco mais de uma manhã para se voltar a dar…

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