quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Sou uma fã da fotografia. Sou aquela pessoa que adora capturar o momento para a eternidade, registá-lo na ótica para mais tarde poder voltar a ele, relembrá-lo e saboreá-lo com a intensidade com que foi vivido. Como tal, desde sempre me lembro de possuir uma câmara fotográfica na mão. Desde uma maravilhosa Canon, na qual colocava o rolo, quando as situações eram tão importantes que sentia que teria que registar, pelo menos, 36 momentos inesquecíveis, até aos primeiros momentos da fotografia em formato digital.
Até há muito pouco tempo, fazia parte da minha «trouxa» diária a máquina fotográfica Sony Cyber-shot (tendo tido vários modelos da mesma máquina ao longo dos anos). Aí, não tendo a limitação dos números, passei a fotografar um pouco de tudo: os amigos, a família, os encontros, os reencontros, as festas, os tudo e os nada do dia a dia. Passei a fotografar, também, animais: gatos, pássaros, todo e qualquer animal que encontrasse em posições ou situações divertidas ou caricatas. Passaram a fazer parte do meu espólio fotográfico paredes pintadas com frases que me inspiravam, encontradas por esse país fora, obras magníficas de street art e, em menor número, paisagens citadinas e campestres. Tudo e todos eram razão para fotografar. E, a partir do momento em que os telemóveis passaram a incorporar uma câmara fotográfica com maior qualidade e uma maior capacidade de armazenamento, posso dizer que este comportamento se agravou. É raro o dia em que não encontre 4 ou 5 razões para fotografar. Isto sem falar nos dias festivos, nos dias com amigos e/ou família, em que o número de fotografias sobe para o nível das centenas! E guardo todas: desde aquelas em que parecemos verdadeiras modelos àquelas que denomino de «tesourinhos deprimentes». Sou a fiel depositária de todas essas fotos do meu grupo de amigos.
Mas desenganem-se aqueles que poderão já estar a pensar que sou uma excelente fotógrafa! Apenas gosto de capturar momentos e cenários de felicidade, momentos caricatos e divertidos. Como dizia Henri Cartier-Bresson: «Fotografar é colocar na mesma linha a cabeça, o olho e o coração.» Fotografo para guardar para mim a imagem vista, pensada e apreciada naquele momento.
Contudo, percebi em duas ou três situações que o contrário aconteceu. Percebi que, sempre que os momentos foram totalmente arrebatadores e inesquecíveis, acabei por nem me lembrar de fotografar ou, se o fiz, foram poucas vezes. Assim aconteceu naquele concerto inolvidável dos u2 em Coimbra, em que raras foram as fotografias que tirei, e assim acontece com o meu amado Alentejo. As viagens de e para o Alentejo têm-me presenteado com paisagens magníficas, dignas de postal. Contudo, conto pelos dedos das mãos as fotos que tenho dessas paisagens admiradas. Assim aconteceu, também, com uma das paixões da minha vida. Apesar dos muitos e bons momentos, raramente aflorou à minha mente aprisionar aqueles momentos para a eternidade.
Todavia, ainda que sem fotografias, consigo relembrar sem dificuldade a voz do Bono Vox, consigo recordar a emoção que senti durante todo aquele concerto, consigo lembrar de todo o ambiente que se sentia naquela noite chuvosa. Quanto ao Alentejo, basta pensar nele para se formar na minha mente as magníficas paisagens a que assisto na primavera com os seus tons de verde, amarelo e roxo ou, no verão, com os seus vários tons de amarelo. Basta pensar nestas viagens para sentir o cheiro que tão bem caracteriza o «meu» Alentejo e para sentir no meu peito aquele estado de encantamento que só o Alentejo me oferece.
Quanto a ti, paixão perdida num passado que já se vai fazendo velho, percebi que nunca precisei de uma fotografia para relembrar o teu sorriso. Tornaste-te, ou tornei-te, eterno no momento em que percebi que contigo a vida era mais colorida, mais leve e mais bonita de viver. Poderia, sem dificuldade, e se a tanto me chegasse a arte, desenhar cada linha do teu rosto, cada linha do teu corpo. Nenhuma fotografia poderia manter-te mais vivo na minha memória do que as recordações que tenho. Ainda assim, se apenas me fosse permitido manter uma memória tua, se tivesse de te eternizar em apenas um pormenor, esse pormenor seria esse teu sorriso. O sorriso que, apesar das vicissitudes da vida, sempre se foi mantendo e que, talvez por isso, ficou gravado na minha alma.
Sou uma amante da fotografia. Através dela capturo e penso guardar para a eternidade todos os bons momentos, as pessoas interessantes que atravessaram a minha vida, os pormenores curiosos ou até divertidos. Mas percebi que existem coisas magníficas – um concerto, uma paisagem, um sorriso – que, por serem tão excepcionais, se eternizaram na minha mente sem qualquer possibilidade de, um dia, serem apagados. E é na mente e no coração que os quero guardar como pequenas preciosidades, pequenos tesouros que não quero partilhar com mais ninguém.

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